Retornar é Preciso V

Agora, visitaremos Paris. O capítulo V do livro Retornar é Preciso é bastante extenso. Por isso, para não cansá-lo, será dividido em etapas, sob o título Paris I, II, III e assim por diante. Espero a compreensão do leitor.

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Paris I

O capítulo 3 desta narrativa – França foi subdividido em tópicos denominados Saint Claude, Maisod, Yvoire, Chamonix-Mont Blanc e Annecy, localidades situadas em território francês. Quanto à cidade de Paris, embora pertença à França, encontra-se descrita no capítulo 5, destacadamente, em virtude de o planejamento editorial estabelecer a sequência das citações de acordo com as visitas realizadas.

No dia 8 de julho de 2018, nos despedimos da Sardenha para visitar a Cidade-Luz, Paris, que nos aguardava ansiosa. A primeira vez que visitei este belo lugar foi em setembro de 1996, acompanhado de minha esposa Matilde e de nossa filha caçula, Márcia. Naquela oportunidade, confessei a Paris o sentimento que sempre lhe dispensei. Disse-lhe eu, a voz embargada pela emoção:

“Paris, mon amour! Aqui estou para conhecer-te. Declaro-me teu eterno apaixonado. Sofri por todo o tempo em que não te declarei esse amor sem limites. Hoje, meu sofrimento acabou. Vim para compartilhar da tua intimidade. Je t´aime mon amour!”

Neste capítulo, menciono fatos históricos, faço alusão a episódios marcantes do passado, descrevo aspectos da paisagem urbana e menciono lugares eruditos, repositórios da arte e da cultura.

Paris é meu xodó. Já a descrevi em quatro oportunidades. Para amenizar a saudade renitente, releio as páginas amareladas dos textos que escrevi embevecido.

O tempo não me fez esquecer os encantos da mais bela cidade do mundo, originada na principal ilha do rio Sena, remotamente habitada por pescadores da tribo dos Parísios.

Paris foi fundada pelos gálios a partir da construção de pequeno centro urbano à margem do rio Sena. Os romanos a chamavam de Lutécia, na época em que fora dominada por Júlio César.

A beleza arquitetônica da capital francesa deve muito ao rei Luís XIV, que iniciou sua transformação urbanística alargando ruas, construindo grandes avenidas e demolindo casas para construção de pontes sobre o rio Sena.

Napoleão I tinha em mente que a arquitetura não poderia existir sem a urbanização. Para tanto, mandou construir novas pontes, mercados, cais, grandes avenidas, igrejas e prédios públicos.

Filipe Augusto foi quem iniciou a construção do edifício onde está instalado o Museu do Louvre. Por volta do ano 1200, foi edificada uma fortaleza para proteger o tesouro real, os arquivos do Estado e a própria cidade, ameaçada por invasões protagonizadas pelo rei Henrique II, da Inglaterra.

Em 1356, edificou-se nova muralha de proteção, retirando a função defensiva da antiga fortaleza, que resultou dentro da área urbana. Em 1527, após retornar de um cativeiro em Madrid, o rei Francisco I fixou residência nas imediações de Paris, valorizando, assim, as instalações da fortaleza.

O rei Henrique II retomou as obras de edificação do palácio, hoje integrante do complexo arquitetônico onde está instalado o Museu do Louvre. O rei Henrique II morreu acidentalmente, em 1559. Anos depois, sua viúva, Catarina de Médicis, deu inicio à construção do Palácio das Tulherias. Tais obras somente foram concluídas por Luís XIV, cem anos depois. Os trabalhos de ampliação do edifício prosseguiram no reinado de Henrique IV e nos de seus sucessores, os reis Luís XIII e Luís XIV. As obras foram interrompidas em 1682, quando a corte transferiu-se para Versalhes.

Sucessivas retomadas da construção foram efetivadas ao longo dos anos, até chegar à arquitetura atual. Em 10 de agosto de 1793, contando com quinze quilômetros de extensão linear, tornou-se, definitivamente, um museu. Este que conheço e do qual falarei amiúde mais adiante ao me referir às suas dependências repletas das mais significativas obras da cultura universal.

A igreja da Madeleine, dedicada pelo rei Carlos VIII à Santa Maria Madalena, foi erigida em estilo grego. O templo é sustentado por 52 colunas em formato coríntio, assemelhando-se ao Panteão edificado por Vespesiano Agripa, em Roma, no ano 27 a.C.

A Torre Bombec era o lugar onde se torturavam os prisioneiros. Ali, durante a Revolução Francesa foram aprisionadas 4.174 pessoas, entre elas Maria Antonieta, a última rainha da França, guilhotinada em 16 de outubro de 1793.

Paris tornou-se centro cultural e político graças ao cardeal Richelieu, fundador da Academia Francesa, cujos membros foram chamados de Os Imortais.

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Aproveitamos sem parcimônia os vagões do metrô parisiense. O hotel onde estávamos hospedados distava alguns quilômetros do centro das atrações turísticas que desejávamos visitar. Fazer esse percurso por táxis seria não apenas oneroso, mas, sobretudo, inexequível, haja vista que os táxis parisienses transportam apenas três pessoas por unidade, e nós somávamos dez. Utilizá-los para transportar todos nós a um só tempo seria admitir sairmos em comboio de quatro veículos, capazes de se dispersarem ao longo das vias urbanas, acarretando a separação do grupo, composto de idosos, senhoras e adolescentes.

A pé, palmilhamos a cidade em longos percursos. Nesse arremedo de maratona, sentimos o desgaste físico provocar o desconforto da fadiga, principalmente nos mais idosos, peregrinos de uma jornada diária repetida à exaustão. De nosso préstito turístico faziam parte dez pessoas: quatro crianças adolescentes, quatro adultos de meia idade, eu e a Matilde, os mais avançados em dias. Mas, nem por isso arrefecemos o ímpeto de conhecer ou de rever lugares guardados na memória para relembrá-los quando a saudade apertar.

Passeamos pela Avenida Champs Elysées, a mais bela do mundo, cuja extensão vai do palácio do Louvre ao Arco do Triunfo, passando pelo jardim das Tulherias e Praça da Concórdia, seguindo pelo bairro de La Défense. As calçadas são largas e convidativas a boas caminhadas rumo ao prazer de contemplar o Arco do Triunfo, monumento erigido por Napoleão I para dedicá-lo à Grande Armada.

O Arco do Triunfo foi concluído em 1836, medindo cinquenta metros de altura e quarenta de largura, superando em grandeza o Arco de Constantino, em Roma. Em suas paredes estão registradas importantes vitórias napoleônicas e inscritos os nomes dos 558 generais do glorioso exército do líder militar francês. Na parte superior, encontra-se o túmulo do Soldado Desconhecido, em homenagem a valorosos combatentes mortos na II Grande Guerra.

Caminhamos por vários e atrativos lugares. Estivemos na Praça da Concórdia, a maior de Paris, construída de 1754 a 1763, local da execução pública de 1.119 condenados à morte, na guilhotina, entre eles o rei Luís XVI. Com o passar dos anos, este local passou a denominar-se Praça da Concórdia.

Visitamos a Catedral de Notre-Dame acompanhando os passos de uma multidão de turistas em fila indiana, expostos ao sol forte. Exceto as nossas crianças, nós, os adultos, já a conhecíamos de outras oportunidades. Adentramos o templo depois de tê-lo observado externamente. Sabíamos que a construção da catedral ocorreu no ano 1163 e somente foi concluída em 1345, 182 anos depois.

Os três magníficos portais da Catedral de Notre Dame são em estilo gótico. A porta principal contém gravuras que representam o Juízo Final. No pilar que divide o portal ao meio está uma escultura de Jesus Cristo. Dos lados, relevos retratam a personificação de vícios e virtudes, além de estátuas dos apóstolos. Em volta do arco da porta central estão esculpidas figuras representando o Paraíso e o inferno.

Em toda a fachada existem esculturas de bispos católicos, reis, santos, anjos e de muitas outras figuras celestes, impossíveis de enumerar. É uma obra após outras; um detalhe enriquecido pelo vizinho ao lado; uma história bíblica seguida de outra. Uma abundância de figuras de alto a baixo dos três magníficos portais de Notre-Dame. Assim, é o exterior da catedral. Quanto ao interior, tentarei descrevê-lo o mais fielmente possível.

São impressionantes as dimensões do templo: 130 metros de comprimento, 50 de largura e 35 de altura. O espaço interno é suficiente para acomodar nove mil pessoas. A igreja é dividida em cinco naves, suportadas por enormes pilares de cinco metros de altura.

As capelas laterais são ricas em obras de arte dos séculos XVII e XVIII; as fachadas têm esplêndidos vitrais do século XIII, alguns com temas do Velho Testamento. Entre as cape-las de Saint-Denis e de Saint Madeleine encontram-se preciosas relíquias como o fragmento da Cruz de Cristo, a Coroa de Espinhos e o Prego Sagrado. Acreditem!

Napoleão I foi coroado pelo Papa Pio VII na Catedral de Notre-Dame. Esse belo templo da fé cristã foi restaurado várias vezes ao longo dos anos e até esteve ameaçado de demolição. Por certo período, Notre-Dame serviu à celebração de cultos pagãos. A deusa pagã, Razão, chegou a ser venerada na bela catedral por ordem do revolucionário e magistrado francês, Maximilien François Isidore Robespierre. Felizmente, a verdadeira razão, ou seja, a faculdade de compreender e julgar se sobrepôs às ideias irrefletidas de Robespierre e possibilitou a devolução do templo à fé cristã, em 1802.

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Por enquanto, fico por aqui. Em breve, darei continuidade a esta narrativa.