Retornar é Preciso III
Eis o terceiro capítulo do livro Retornar é Preciso.
Boa leitura!
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França
Saint Claude
Chegamos ao segundo dos nossos destinos as 21h do dia 29 de junho de 2018. O percurso Genebra-Saint Claude foi executado com segurança, vencido paulatinamente por rodovias bem conservadas e adequadamente sinalizadas.
Desembarcamos na montanhosa cidade francesa à noite, embora o Sol insistisse em retardar o ocaso do dia. No verão europeu, o Astro-rei recolhe-se tardiamente, depois das vinte e uma horas. Com isso, nós, os turistas, aproveitamos a longevidade do dia para abusar de nossa resistência física, em busca das novidades que nos são oferecidas.
Antes de ocuparmos os cômodos da pousada alugada para nos abrigar por seis dias de intensa peregrinação turística, jantamos em modesto restaurante, concluindo, assim, as horas do primeiro dia da presente excursão, passado em terras de além-mar.
Saint Claude, a pequena cidade que nos hospedou, é uma localidade estabelecida no departamento de Jura, na região da Borgonha, pertencente à França. Sua população situa-se por volta dos 18.000 habitantes.
O Maciço do Jura ou Cordilheira do Jura é uma cadeia de montanhas com 1.720 metros de altura. Surgiu no período geológico denominado Jurássico, e data de 210 a 140 milhões de anos. Trata-se de área protegida ecologicamente, contemplando extenso parque de 178.000 hectares, criado em 17 de fevereiro de 1986. Abrange 122 pequenas comunidades espalhadas por aclives e vales do chamado Maciço de Jura.
Maisod
No dia 30 de junho, acordamos tarde, talvez às 9h. O café da manhã foi regado a produtos adquiridos no supermercado local. Debelada a fome, saímos de carro para visita a Maisod, localidade pertencente ao departamento de Jura, medindo 7,39 km² e uma população de apenas 342 habitan-tes. Chegados ali, fomos ao Lago Vouglans, bastante concorrido.
Abrigados à sombra de uma árvore por alguns instantes, esvaziamos os farnéis transportados com frutas, água mineral, queijos, vinho e champanhe. Entre uma beliscada e outra, e um e outro gole de vinho, Luiz Roberto, Drys, Márcia e Érica, acompanhados dos respectivos filhos, adentraram às frias águas do Lago Vouglans.
À sombra das árvores, Matilde e eu ficamos sentados no chão forrado de toalhas, com as sacolas a servirem de encosto para nossas cabeças sonolentas.
Ao final da tarde, quase noite, retornamos a Saint Claude. No apartamento que nos serviu de moradia provisória, saciamos a fome com as iguarias adquiridas na parte da manhã.
Repetindo cenas anteriores, degustamos bons vinhos, excelentes queijos, geleias e até caviar, aguardando o jantar preparado por Luiz Roberto, nosso cozinheiro oficial, com o adjutório de Matilde, Márcia e Érica.
Yvoire
Na manhã do dia seguinte, 1º de julho, fomos conhecer Yvoire, aldeia francesa medieval, fortificada, situada junto ao Lago Lemano.
Os dois carros que nos transportaram seguiram céleres pelas pistas das montanhas do Jura, estreitas e repletas de curvas, porém, sem depressão ou defeitos no asfalto. Os motoristas Luiz Roberto e Drys Dantas deram conta do recado, dirigindo-os com redobrados cuidados, exceto quando tinham de ler informações do GPS, transmitidas pelos telefones celulares. Eles dirigiam com um olho na estrada e outro no guia cibernético. O volante do carro era apalpado pela mão esquerda, pois a direita ocupava-se de segurar o telefone.
O que dizer de Yvoire? Num esforço de memória, coadjuvado por pesquisas posteriores, direi o seguinte: Yvoire é uma comunidade francesa da época medieval, do inicio do século XIV. Banhada pelo Lac Léman ou Lago de Genebra, pertence à Alta Saboia, departamento francês dos Alpes que fazem fronteira com a Suíça e a Itália.
Esse pequeno e agradável rincão localiza-se a 441 metros de altitude e abriga uma população inferior a mil habitantes. É uma das mais encantadoras aldeias da França, destino turístico que apraz sobremaneira o visitante.
Suas construções centenárias atestam a época das edificações fortificadas devido à importância militar desenvolvida em decorrência da localização estratégica. A partir de 1306, e por mais de 500 anos, passou por processo de fortificação de suas defesas, por iniciativa de Amadeu V de Saboia.
O castelo de Yvoire foi construído no século XIV, por Amédée V, conde de Saboia, tendo sido ocupado nos anos de 1536 a 1591 pelas forças beligerantes dos senhores de Berna. Durante esta ocupação, a aldeia perdeu suas muralhas de proteção e o castelo foi incendiado, permanecendo sem telhado por 350 anos. A torre do castelo somente foi restaurada no século XX.
Passamos agradáveis momentos em inesquecíveis passeios por ruelas de estilo inconfundível. Visitamos muralhas, portais, casas e canais, além de lojas de souvenir e de artesanato.
Ao final do dia, retornamos a Saint Claude, aonde chegamos à noitinha. Como vínhamos fazendo nas demais ocasiões de nossa estada naquele lugar, preparamos a comida para o jantar na cozinha do apartamento. Nada melhor poderia nos satisfazer. Comemos queijos de variadas qualidades e bebemos vinho e champanhe para nos redimir do cansaço.
Chamonix
Antes de chegarmos à Annecy, seguimos viagem até Chamonix, atravessando o túnel Mont Blanc que revimos saudosos de outras viagens. O Mont Blanc é aberto na rocha montanhosa nos dois sentidos da via – mão e contramão. Os seus 11.611 metros de extensão devem ser multiplicados por dois a fim de dimensionarmos a importância da obra, tão gigantesca quanto eficaz ao trânsito rodoviário. Trata-se de empreendimento de elevado valor econômico e patrimonial para seu país, a França.
Com a devida vênia do estimado leitor, abro um parêntese para um desabafo pessoal, resultante de minha insatisfação com as delituosas ações praticadas por políticos brasileiros de todos os matizes. Refiro-me a projetos de elevado custo financeiro, realizados para propiciar a roubalheira tupiniquim. Governos incompetentes, assessorados por elementos perniciosos e igualmente corruptos são responsáveis pela ausência da contraprestação de obrigações assistenciais ao contribuinte. Quantas mortes não resultam da danosa gestão do poder público?
Volto a falar sobre Chamonix, comunidade do departamento da Alta Saboia. Trata-se de uma das mais importantes localidades turísticas do inverno europeu, exibindo a maior altitude da França, com 24.546 metros. Foi doada à Abadia de Saint-Michel pelo conde Aymon I, de Genebra. Pertencia à Casa de Saboia e era integrada ao Reino da Sardenha. Em 1860, tornou-se território francês pelo Tratado de Turim, passando a denominar-se Chamonix-Mont-Blanc, em 1921.
No centro de Chamonix, encontra-se vistosa escultura de dois personagens: Horace Bénédict de Sanssure e o guia de montanha Jacques Belmat, acompanhante de Horace, montanhista, geólogo suíço e pesquisador consagrado, tido como pioneiro em alpinismo. No expressivo e simbólico monumento, Jacques Belmat aponta para o cume do Mont Blanc, talvez a dizer ao seu companheiro: “Vamos nessa?”.
De teleférico, subimos até 3.466 metros do Mont Blanc, para do alto nos deleitar com a vista e a alvura dos picos montanhosos, cobertos da neve depositada em suas escarpas, independente da estação do ano.
Anecy
No dia 2 de julho, por volta das 10h, empreendemos viagem a Annecy, cidade francesa situada entre os maciços de Bornes e Bauges, às margens do Lago Annecy. Foi em Annecy que o Carrefour inaugurou sua primeira unidade comercial. A população flutuante da cidade supera os 133.000 habitantes.
Annecy também é conhecida por Veneza dos Alpes, encontrando-se a 448 metros acima do nível do mar. A história situa essa comunidade como a mais antiga dos Alpes franceses, onde foram encontrados vestígios do período Neolítico ou idade da pedra polida.
O primeiro povoado da hoje Annecy foi fundado pelos romanos no século I a.C., sob a denominação de Boutae. Com a decadência do Império Romano a região sofreu diversas invasões por parte dos germanos e dos francos. No século XI, uma nova povoação teve início às margens do rio Thiou. Foram erguidas fortificações que, posteriormente, passaram a compor as edificações do Castelo de Annecy, cujas obras transcorreram nos longínquos anos dos séculos XII a XVI.
Annecy está localizada entre Genebra e Chambéry. No século XII, foi edificada uma casa fortificada em uma ilha do rio Thiou, hoje conhecida por Palais de I’Ile. Ainda no século XII, a cidade tornou-se a capital da região de Genebra, até que, em 1401, foi integrada à Casa de Saboia.
Durante a Revolução Francesa, a região de Saboia foi conquistada pela França, sendo Annecy anexada ao Departamento de Monte Branco, cuja capital era Chambéry. Em 1815, a cidade retornou aos domínios da Casa de Saboia e, em 1860, após ser anexada à França, passou a exibir o título de capital do novo Departamento da Alta Saboia.
Andamos por algumas das vias urbanas da cidade a fim de consigná-la em nossas recordações turísticas. Exceto a Matilde e este modesto escriba, os demais componentes de nosso grupo familiar esbaldaram-se nas águas frias do Lago Annecy.
Retornamos a Saint Claude ao final da tarde, quase noite, com o sol ainda a iluminar nosso caminho.
Dijon
No dia 3 de julho de 2018, visitamos Dijon, comunidade estabelecida na região administrativa da Borgonha-Franco-Condado, no departamento de Côte-d´Or, distante 310 quilômetros de Paris.
No ano 1137, a cidade foi destruída por um incêndio. Durante a Segunda Guerra Mundial, esteve submetida à ocupação nazista, libertando-se em 11 de setembro de 1944.
Os primeiros moradores de Dijon datam da época Neolítica, enquanto os habitantes atuais somam mais de 200 mil almas, distribuídas por 40,41 km² de seu território.
Em 2015, a UNESCO concedeu-lhe o título honorífico de Patrimônio Histórico da Humanidade. Depois de Paris, Dijon revela-se como um dos principais centros culturais do país.
Durante o passeio, conhecemos expressivos pontos turísticos de Dijon. Foram objeto de nossa apreciação, ruas e logradouros públicos, alguns com idades perdidas no tempo; prédios edificados ao longo dos séculos, entre eles os palácios da Justiça e dos duques de Borgonha; igrejas seculares, edificadas em estilos românico e renascentista, a saber: igrejas de Saint Philibert, de Notre Dame, do século XIII; e de Saint Michel, do século XI.
O estilo artístico renascentista decorreu do movimento intelectual do século XV, nascido em Florença, na Itália, por volta de 1420, e que renovou as artes, a arquitetura e as letras.
Também, visitamos lojas do centro da cidade, mais para registrá-las em nossas memórias turísticas do que destinadas às compras em estabelecimentos de variado estoque, sofisticado ou artesanal.
Aguarde o próximo capítulo!