COISAS DE CINEMA?
Filme americano moderno. O sujeito entra no bar. Vê uma lindeza deslumbrante sozinha, bem vestida, elegantérrima. Senta a seu lado e começa uma conversa de leão pra tigre. Oferece uma bebida, geralmente rola um Martíni com três azeitonas gordas espetadas. Então, com poucas palavras, ele diz que a deseja, ela topa. Caminham pela rua deserta até o apartamento de um deles. Na maioria das vezes, sexo furioso, desde o elevador. Na cama, sob lençóis, o sexo flui como bolero de Ravel. Movimentos relativamente delicados, sensuais, com muita pose, e, em dois ou três minutos, o orgasmo geral e irrestrito. Mesmo quando o sexo é arrasador, de cabo a rabo, o tempo é curto. O sono, o banho a dois, roupões brancos, felpudos, e o café da manhã: panquecas ou omelete, como eu fazia quando tinha quinze anos. Ele pergunta se ela aprovou e ela responde que estava muito bom, às vezes com uma piadinha, olhares e sorrisos de ameaçar enfarto do miocárdio. Em outras ocasiões, um deles sai cedo, enquanto o outro dorme, e deixa um bilhete com letra bonita. Então, o café tem de ser no habitual bar da esquina, onde você é conhecido (a) da atendente. Tenho visto tantas cenas parecidas como a descrita nos muitos filmes norte-americanos a que assisto que chego a me sentir em dívida com a vida. Isto acontece mesmo ou é melhor ficar só com o cinema alternativo? Estas coisas, para mim, nunca foram assim tão fáceis de acontecer; talvez não tenha merecido, mas passou.