UMA ASSESSORA DO LAR

Uma assessora do lar – faxineira, empregada, seja lá como desejarem a classificação formal – é coisa em extinção por aqui. Nos Estados Unidos ou na Europa exercem outro papel, possivelmente em dedicação e qualidade inferiores, mas com “status” distinto, elevado, a custo assaz oneroso, quando disponível. Não estou falando em personagens semelhantes à Mammy, do E O VENTO LEVOU, à Mamãe Dolores, do DIREITO DE NASCER, ou à imbatível Yeda, da casa de meus pais por mais de 30 anos (apartamento que ainda contava com dependências de empregada). Cogito de alguém responsável, diligente, trabalhadora, absolutamente confiável, e que preste serviço regular e eficiente, mesmo com as habituais e inevitáveis imperfeições. Nada a ver com exploração ou trabalho escravo, por favor. Faz quem quer, quem gosta e coloca seu preço. Raridade. Eu até tenho alguma sorte, pois disponho de pessoa de confiança com certas semelhanças ao modelo, que conheço há 40 anos, que falta quando necessita e não se submete a horários rigorosos. Com 62 anos, dá-se ao luxo de não vir quando chove muito ou quando realiza seus périplos pelo SUS. Sem qualquer reclamação ou censura de nossa parte, já que, em certas ocasiões, não avisa previamente. Melhor assim do que assado. Não é campeã da faxina, mas cozinha bastante bem (gosto de ajudar na combinação do cardápio), é discreta e não significa custo excessivo, como está na moda. No mais, a gente se vira aqui, com as habilidades da mulher e com as minhas raras “invencionices” para quebrar o galho. Ademais, sou o seu Banco Central ou BB para pequenos socorros financeiros sem juros, não raro e parcialmente, a fundo perdido. Nesta área, as coisas fluem assim ou desandam. Muitas profissões desapareceram como as das prestigiadas datilógrafas; outras, como esta, tendem a sumir ou a adquirir um profissionalismo sem cara, coração e real confiabilidade. É o progresso. Vivi 22 anos morando sozinho, com faxineira uma vez por semana. Geralmente, ela mesma, a atual assessora doméstica. Mas, agora, noutro espaço residencial mais amplo, com mulher, enteado de 22 anos, três cachorrinhos Poodle, eventuais visitas de filhos, netos ou amigos, não dá, né? Não fui, infelizmente, contemplado com habilidades de “homem-utilidade”, sempre avisei antes de namoros ou casamentos. Minha serventia prática não é muito expressiva. Sirvo mais para a fotografia, embora acredite que coordene algumas coisas.