LABIRINTO DE EMOÇÕES
Como qualquer mortal, gosto muito de gente. Mas sempre existe uma faceta obscura e complicada. Por exemplo, quando tinha cargos importantes ou certo “glamour” por atividades exercidas, era procurado para conversas e encontros agradáveis, que abundavam. Com o passar do tempo, passaram a ocupar espaço maior reclamações, pedidos de colaboração ou de contribuição, coisas protocolares ou meros cumprimentos de gente civilizada. O interesse eventualmente minguou, recuperando-se quando a outra parte percebe que ainda conto com alguma bala na agulha. Não dá para generalizar, mas fica nítido que isto acontece com quase todo mundo dentro do processo evolutivo, de transformações sucessórias. Quando, há muitos anos, meu filho foi nomeado promotor de justiça, escrevi-lhe um pequeno texto em que dizia já sentir o gosto de página virada. Mas a questão ora abordada não tem nada a ver com profissão, mas com interação humana. Aquela amiga que, há pouquíssimo tempo, chorava no teu ombro, descobriu o caminho para as Índias, os teus parceiros mais dedicados sumiram nas brumas de novas empreitadas, alguns decidiram envelhecer simplesmente e recolheram-se ao casulo e os mais jovens seguiram o canto da sereia. Aumentou o número de chatos e daqueles para quem és apenas transparente. A vida moderna é assim mesmo: muita gente, muita atração, muita competição, pouca disposição para a boa luta e o resto dos indivíduos é praticamente invisível, ou é apenas um número, um nome qualquer na relação disponível. Por um lado até é bom, pois nos absolve da indiferença que também nos contagia. Quebrou a perna? Que pena! Morreu? Pêsames! E segue o baile, sem o tradicional minuto de silêncio. É como a administração pública nos trata: dois dias sem água ou sem luz, um dia sem internet, longas esperas nas emergências hospitalares. O nosso custo é o mesmo. Enfim e para concluir, tirante parentes, certos amigos, esposa, filhos e netos, só mesmo com os cachorrinhos para sobreviver afetivamente neste labirinto social de tão difusas e incertas emoções.