EU ACHO DIFÍCIL VIAJAR BEM
Qualquer um pode viajar para onde quiser e quando quiser. Há promoções de passagens, baixa estação, hotéis mais baratos e com preços de ocasião, pacotes turísticos, enfim, muita coisa pode ser feita para uma viagem mais distante, inclusive com longos parcelamentos de despesas no cartão de crédito. Bom, há algum tempo atingi um estágio da vida em que gosto de escolher mês, dia e horário de viagem, até a localização da poltrona, e não abro mão de contratação prévia de serviço de recepção e traslado para o hotel. Opto por hotéis de certa qualidade e estrategicamente localizados, gosto de frequentar bons restaurantes, cervejinha ao meio-dia, vinho tinto à noite, e não deixo de provar as iguarias locais. Nada de excepcional, ao nível mesmo de uma vida normal no Brasil, mas tudo isto em dólares ou euros, o que atualmente equivale a um razoável automóvel zero quilômetro, com o valor do dólar e do euro nas alturas. As comprinhas são inevitáveis, “souvenirs”, presentinhos e coisa e tal. É preciso acrescentar museus, exposições, eventualmente teatro, passeios imperdíveis e um ou outro show numa casa qualificada de espetáculos, para duas pessoas, táxi, gorjetas e já sai o carro com o IPVA quitado e o Seguro de Responsabilidade Total Contra Terceiros. Sem falar na inevitável passagem pelo Free Shop. A “pegada” até vale, quando se tem grande disposição; não há nenhuma necessidade, afinal, desse tal de carro “zero”, mas a pessoa deve estar motivada para enfrentar o incômodo da sofrível classe econômica dos aviões – um martírio -, as longas esperas, as filas, as malas, os atrasos e a privação de fumar. Sou econômico, mas não viajo para passar trabalho ou para levar vida inferior àquela que desfruto aqui. Se pudesse, viajaria sempre de primeira classe e tudo seria mais cômodo. Não tenho cacife para tanto. Adoraria ir à Rússia, por exemplo, mas só com anestesia geral. Pretendo, em breve, revisitar Portugal, há voo direto de Porto Alegre, uma beleza, mas dá para aguardar um pouco mais, não sou tão veterano assim. Espero que nossa moeda recupere um pouco da dignidade internacional. Nunca usei pontos de cartões de crédito, sempre preferi vendê-los ou adquirir outros bens. Posso estar enganado, mas seu uso na compra de bilhetes de viagem implicaria em não ter total liberdade para escolher companhias, datas e horários. Ou sou um dinossauro mesmo. Mas as alternativas são muitas. Como dizia o motorista Seu Hélio, da Banrisul Financeira, depois de ter conhecido Bombinhas, em Santa Catarina: “É praia muito bonita, mas sou mais o meu Quintão”.