SEPARAÇÕES
Muitos são os temas que merecem atenção e análise, nas circunstâncias em que o calendário naturalmente nos conduz a refletir. Gostaria de convidá-los a pensar sobre o fenômeno das muitas separações conjugais. Salvo em casos muito nítidos de insanáveis conflitos, sempre me pareceu que as separações de casais, sobretudo com filhos, tendiam a uma exagerada incidência, fruto destes novos tempos. Separações precoces, a meu ver, geralmente decorrem de erros quanto à decisão de casar. Casamento apressado é lotérico. Claro, ninguém está livre, acontece, mas não deveria. Casamento não é solução de vida, não é redenção e, portanto, tê-lo como finalidade e meta, parece caçada de leão na África. É matéria complexa, pois a gente pensa às vezes numa coisa e nos acontece outra bem diferente. C’est la vie. Antigamente, o descasamento era raro, muito em função da submissão cultural e social feminina, ao machismo, enfim. Mas enfocar o assunto somente sob esta ótica simplista é um enorme equívoco. Na minha família inteira, se não sou o único separado, dentro de minha faixa etária, sou um dos dois ou três casos existentes. Sim, depois ocorreram alguns outros, que não são maioria e desconheço a situação dos parentes bem mais jovens. Cada caso é um caso e pode-se dizer que tanto o casamento pode ser uma fantasia, quanto a separação. Para quem precisa muito de descargas fortes de adrenalina, creio que é mais saudável escalar o Everest. Relações são complicadas mesmo, desgastam e diluem-se no dia a dia, não raro gerando tensões. Mas muita gente hoje está na base da “tolerância zero”, que é o ápice do egoísmo e da conveniência individualista. Não existem modelos e padrões, o príncipe também é sapo e a princesa é igualmente bruxa. A pessoa casa duas, três ou quatro vezes e, mais cedo ou mais tarde, vai dar-se conta de que fez um giro de 360 graus e de que a vida continua igualzinha. As exceções justificam a regra.