LARANJAS, BANANAS, ABACAXIS E LIMÃO

Jamais criticaria meu pai, que investiu esforço e recursos materiais próprios, em duas campanhas para Deputado Estadual. Era ideal e meta arrebatadores. Não faria o que ele fez, mas não poderia jamais contestar suas aspirações e crenças e o livre uso do dinheiro e bens que conquistou pelo trabalho pessoal dedicado e árduo. Lembro que vendeu uma fazenda de bom tamanho no Mato Grosso, terrenos na praia e em Porto Alegre, para reforçar poupança em dinheiro e assim cobrir todas as despesas das disputas políticas que travou. E não era muita coisa. Não havia laranjas, bananas doadores, apenas, talvez, abacaxis para descascar. O limão, como sempre, era para os eleitores. Mas, em seu nome e representação, fico indignado com o modo “moderno” com que muitos e muitos abrem espaço político, conquistam mandatos, preservam posições e desfrutam boa vida, sem um pingo de recursos próprios arriscados. Nem cogito aqui de outras atividades, como nos clubes de futebol, por exemplo, que deveriam ser lúdicas e objetos de abnegação e voluntariado. Operações “obscuras” sempre existirão e não é prerrogativa nacional, mas como as coisas têm acontecido no Brasil, com habitualidade e desfaçatez, sinto pena da ingenuidade paterna. Sim, pois, mais tarde, ele teve de pagar o preço da aventura idealista, quase “quixotesca”. Afinal, tinha família de cinco filhos, já relativamente crescidos e o desafio de recomeçar na Capital. Contribuí com minha cota: matriculei-me no C.E. Júlio de Castilhos, não fiz cursinho e passei bem no Direito da URGS, abracei um empreguinho básico, depois, parti para a Europa, no peito e na raça. O velho recuperou-se satisfatoriamente, mas houve momentos complicados e todos os familiares naturalmente pagaram o pato, em função da nobre causa do patriarca. Enfim, o que agora importa é acabar com toda esta zorra, “duela a quien duela”, pois esta salada de frutas provoca muita azia. No balanço da carroça, quem acaba ganhando mesmo são os bons e atilados advogados. “Ó tempora, ó mores!”.