VIDA: CELEBRAÇÃO E ALGUNS LAMENTOS
Celebrar a vida, os amores, os parentes, amigos e os persistentes que nos prestigiam é o apogeu de quem percorreu longa estrada. Esta é uma das grandes conquistas do indivíduo: a alegria de continuar palmilhando o chão com o estímulo e o calor dos afetos diversos. Acertos e erros são absolutamente inevitáveis no percurso existencial. Mas, como sempre, e ao menos para os que têm alguma sensibilidade, lamenta-se o distanciamento de pessoas de quem se esperava, ao menos, algum gesto anual de lembrança e simpatia. Felizmente, navegando no oceano virtual, eu tenho a ventura de colher belas compensações, nestes tempos modernos em que o real e o cibernético se equivalem. Muito bom. O dia a dia está complicado para todo mundo, longe estão os “anos dourados”, do cafezinho habitual, do chimarrão na praça ou do chopinho no bar da esquina com toda a galera. Até o churrasco dos finais de semana restringe-se geralmente à família, raramente com certos amigos disponíveis. A própria idade eventualmente é um óbice a tão dispostas e livres confraternizações. Sendo uma tendência inexorável, não adianta lamentar, paciência, é a vida. Mas o incômodo advém do distanciamento absoluto, aquele de alma, por parte de quem já nos foi precioso em vários momentos. Não daqueles que nos tenham ajudado, aliás, via de regra, abarca quem nós mesmos mais ajudamos; a questão transcende a insignificância deste detalhe episódico e relativo. Estou a tratar de um aspecto importante da convivência humana. Vou dar exemplo banal deste nosso mundinho facebookiano. Aliás, sobre caso que pode perfeitamente ocorrer, quando não há contato pessoal freqüente e nem o fato tenha sido muito noticiado. Já aconteceu comigo, mas era situação relativamente recente e fiquei bastante chocado, inclusive por conhecer efetivamente o cidadão. Há perfis que permanecem, como memoriais, após a morte do indivíduo. Vejo que várias pessoas, quatro ou cinco anos depois do passamento, enviam efusivos cumprimentos de aniversário e festas, desejando saúde, sucesso e alegrias, formulando convites para eventos ou perguntando ao finado por onde ele anda, se está bem e coisa e tal. Ora, neste caso lamentável, inexiste relacionamento positivo algum, nem virtual e nem real, o navegante deseja apenas espraiar-se. Talvez nem tenha interesse em saber se você está vivo ou morto. Saravá!