DOUTRINAÇÃO

Doutrinar sistematicamente o jovem nunca é adequado, quando há conteúdo ideológico, sexual ou religioso. Uma coisa é “doutrinar”, outra é orientar, esclarecer. A doutrinação é importante sempre no sentido moral, social e cívico, em grandes linhas. Mas não fico excessivamente assustado com certas propostas modernas de educação (não estou falando propriamente de ensino). Sempre fui muito “doutrinado”, em casa e no colégio, sobretudo levando em conta o peso exercido pela cultura jesuíta, naqueles tempos carregados dos anos cinqüenta. Era uma enorme doutrinação, que esgotava as cores do arco-íris. Mas, cá pra nós, mal não fez e, eventualmente, até funcionou como um tiro no pé. Mas, por outro lado, o ensino era bom. Já a partir dos dez anos, o jovem é geralmente crítico, hoje em dia até bem mais cedo. O cuidado extremo deve existir, em princípio, até sete, oito anos, depois, a questão é de vigilância, disciplina e proteção em função dos anos loucos e inseguros. A orientação pode durar toda uma vida. Não se fala mais em “pecado”, em céu ou inferno, bondade ou maldade, que eram recursos religiosos católicos válidos para a edificação da velha sociedade. Por isto tornou-se vital aprimorar a lei, tornar efetivo o Judiciário, assim como o poder de repressão legítima do Estado, dentre tantas outras coisas. Vai demorar. Também avulta o papel da mídia, infelizmente ainda tão comercial e aética. Não quero falar da política, até pelo fato de que praticamente todo mundo saiu do armário e diz o que quer, não raro com a palavra à frente do pensamento. Agora, alunos e parentes agredindo ou constrangendo com certa freqüência professores, já é coisa de outro planeta ou deste aqui mesmo, nos primórdios da civilização, talvez. O jovem não é bobo, desenvolve logo sua consciência crítica, de modo que não há razões poderosas para levantar bandeiras heroicas. Grande experiência foi a educação severa e dirigida do Velho Anchieta.