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Joias de Minas
 
Academia Mineira de Letras, fundada em Juiz de Fora , posteriormente vinda para Belo Horizonte, traz consigo os nossos causos arrastados, nossa poesia melodiosa, histórias empoeiradas das bucólicas cidadezinhas a nós destinadas. Expedições de garimpos mecanizados  nomearam nossa Capitania de Minas Gerais, através da extração do ouro e pedras preciosas, seguramente transportados pela Estrada Real às caravelas de Portugal, sem nos deixar um vintém, embora  valiosos foram os garimpeiros da alma , raridades artesanais , lapidadas com muito esmero , que tanto nos ensinaram e nos embalaram!
 
Do baixo  tímido falar do preciosíssimo Carlos Drummond à diplomacia e relevância intelectual de Guimarães Rosa, não passa despercebido o mineiro no cenário nacional e mundo afora.
Nos anos 20, o simbolista Alphonsus de Guimarães escancara as cortinas , fazendo-se o melhor de seu gênero:
“ Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu,
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar…”
No início dos anos citados,  amantes da literatura, dentre eles, o realista Avelino Fóscolo denunciava em sua obra, “O mestiço”, os hábitos sociais dos senhores de terras e a cruel realidade dos escravos. Em seu livro intitulado “ A capital” , esse membro da Academia Mineira de Letras, denunciou as falcatruas da distribuição de lotes na capital mineira. Imagine quantos descendentes dessas benesses estão altivamente flanando por aí, deva ser pela  falta das tornozeleiras, suponho eu.
 
Juntamente com a Semana de Arte Moderna, jovens audaciosíssimos como Carlos  Drummond , Pedro Nava e outros tantos vindos do interior publicaram seus manifestos. Insatisfação gera discussão e quem colhem os primores, somos nós, distraídos leitores!Posteriormente, Drummond publica na Revista Antropofágica, “No meio do caminho,” viralizando geral as redes de teares das varandas coloniais! Naquela caixinha perolada, apertadinha, sentadinha com seus bons modos, estava Henriqueta Lisboa, primeira mulher a pertencer à Academia Mineira de Letras. Não por mero acaso, nascera em Lambari, “Cidade das águas virtuosas”!

Nos Anos 40, a obra “ Ópera dos Mortos”, de Autran Dourado, foi escolhida pela UNESCO, para integrar a coleção de obras representativas da Literatura Universal. Os anos 50 resplandeceram -se com a expressividade e sensibilidade de Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e a delicadeza do “ Menino no Espelho” de Fernando Sabino. Inquietude , transformações sociais, políticas e econômicas dos anos 60 estão redigidas nos contos, poesias e romances de Affonso Romano de Sant’Anna, ziraldo e Oswaldo França Júnior, esse último tive o prazer de conhecer, apresentado pela professora Vera, de Literatura e posteriormente  encantada fiquei com uma de suas obras, “ Recordação de Amar em Cuba”. Partiu aceleradamente o ilustre topázio!

A saída para driblar a censura dos cinzentos anos 70 era a metáfora, conduzindo aos  leitores  às  entrelinhas, tão presentes nas passarelas literárias atuais. Foi o período da geração mimeógrafo, publicavam seus textos mimeografados e os vendiam em locais de grande concentração de pessoas. Havia também as obras dependuradas em varais nas entradas das Universidades. Contistas pipocavam nessa época, descendentes de Drummond e de outros rubis!

Na década de 70, reluziram em um dos solos mais ricos do país: Adélia Prado, Roberto Drummond, Rubem Alves, Henfil, Rachel Jardim, Mário Prata…
Um grupo denominado “ Abre Alas” , reunia poetas que declamavam suas poesias em megafones pelas ruas, reagindo contra a política recessiva da época. Estariam hoje afônicos, nesta Pátria Mãe Gentil, Servil...

Esse garimpo artesanal das Minas recompõe-se diariamente com os amantes dos quartetos, tercetos, trovas, crônicas, redondilhas, trocadilhos, contos estonteantes e até poesias!
Propositalmente quis fechar esse interminável parágrafo com os “ Casos de Minas”, “ Dedo de Prosa”, “Eta Mineiro”, do Singular Olavo Romano, sem maiores conotações, entonações, que por si só estão enraizadas no sentido mais belo das Gerais e seus ancestrais! Pedem passagem ao dito parágrafo, os prêmios nacionais e internacionais atribuídos a Bartolomeu de Campos Queirós, nascido no Centro Oeste faceiro, lá pelas bandas do Velho Chico Mineiro. 
Maestria, afeto, espontaneidade presentes em suas lapidadas obras infanto juvenis de linguajar puro, nato, tal qual os verdes límpidos dos Papagaios a Pitangui, Terra Mãe do Centro Oeste Mineiro, que abrigou esse mineiro brejeiro!
Recordo-me da leitura de “Onde tem Bruxa, tem Fada”, nas singelas entrelinhas o retrato do consumismo desenfreado e a visão individualista. Sumiram-se as fadas, que pena!
E “ O Olho de Vidro do Meu Avô”?
Com um olho , o avô enxergava o que estava ao seu alcance. Com o de vidro, ele era transportado para a fantasia e imaginação.
Partiu aceleradamente também esse diamante!
 A seguir, ternas indagações desse grande mestre das letras :
-”Quem despertou o desejo do açúcar no coração das formigas?”
-”Em qual escola ensinaram as abelhas fabricarem o mel?”
-”Quem imprimiu o arco- íris nas asas da borboleta?”
-”Quem é o professor do canto dos pássaros?”
-”Quem foi criança e passou pelas fases dos porquês e não quis o pai por perto para ajudar nessas indagações?”
-Pergunte ao Bartolomeu, se ele não souber...
Rosa Alves
Enviado por Rosa Alves em 29/11/2018
Reeditado em 29/11/2018
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