Recordações
Responsabilidades com os que me cercam e vastos sentimentos apoderaram-se de mim precocemente, quase que nas mesmas proporções. Surgiram naturalmente pela criação que tivemos, as meninas moças dos anos, 70, 80 em seus desejos, ensejos, lampejos...
Matriculada em Colégio Católico, uniforme de gala, saia azul marinho, blusa branca de um tecido leve, de compridas mangas, meias três quartos, sapatinhos pretos e uma charmosíssima boina azul marinho induzindo ar de sobriedade, não de liberdade.
O uniforme de Educação Física era de um tecido mesclado rosa, compondo-se blusa comportada, short escapando uma pontinha do joelho , saia pregueada finalizando o modelito. Saíamos borbulhando das aulas, não pela movimentação dos corpos e sim pelo fardo das vestimentas.Somente meninas, os meninos chegaram anos depois, para a alegria contida da moçada!
Os ditames vindos dos generais em décadas anteriores sentenciavam até a hora de recolher nos lares, indóceis ares! As Paradas de sete de setembro, ah …, as paradas, e se nos dessem a escolha de não pararmos? Não tínhamos autonomia nem para decidirmos as cores das flores dos balainhos , os quais sustentávamos durante o desfile.Unindo-me a uma prima que diziam sermos muito parecidas, amparamos uma robusta faixa branca com os dizeres: “ Tudo é primavera no sesquicentenário”, será?
-E a tal independência? - Pura indecência!
Os corpos jovens, privados das imperfeições vindas dos atuais “fast foods” , cabelos pretos, longos, peles rosadas , sobrancelhas naturalmente arqueadas, fartos cílios, frescores, louvores da juventude, estimularam hierarquicamente tais escolhas. Marchávamos delicadamente, tal qual o doce Vaga-lume , um velho cavalo de meu avô que nos conduzia pelos caminhos empoeirados de verdes pastagens.O valor que lhe dedicávamos equiparava- se a um desses eletrônicos endeusados pelas crianças modernas. Nas tais paradas, atrevia-me às piruetas em arcos ornados de fitas e acrobacias matinais, nas ruas de pedras, sem se preocupar com saltos mortais, umbrais!
Findando-se os estudos no dito Colégio Católico, Apostólico, a vinda para Belo Horizonte fora permitida porque ficaria em casa de uma tia materna, Tia Irene, que num segundo levaria-me ao paraíso com a docilidade de Manuel Bandeira:
“ (...)
Imagino Irene entrando no céu.
-Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão: - Entra Irene.- você não precisa pedir licença.”
O curso de Letras estimulou o gosto pelos estilos de épocas interagindo História e Literatura com seus quartetos, tercetos, recontos, nem te conto!
Lisonjeava-me nas aulas de Latim do Professor Jaime, vez por outra, surge o vocábulo “ ludopédio” em minhas divagações…
A saída de casa fora penosa, embora recompensada pelo universo a mim apresentado. Emocionava-me nas páginas de “ Uma vida em segredo”, de Autran Dourado, em “Amar, Verbo Intransitivo” de Mário de Andrade. Reconstituição era a palavra mestra“, antes da chegada do Vesúvio em Os “Últimos dias de Pompéia”.
Dentre tantos versos, parágrafos bem digeridos, recorda-me Canaã, de Graça Aranha,retratando a imigração, tão divulgada, alvejada, essa outra parada...
Em tempos modernos de “Cura Gay ,” a mim, não importa, se Capitu traiu Bentinho, prefiro emaranhar-me nesses versos Machadianos, quando partiu sua doce Carolina.
(...)
"- Foi-se a melhor parte de minha vida, e aqui estou só no mundo. Éramos velhos e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor; primeiro porque não acharia ninguém melhor que me ajudasse a morrer; segundo porque ela tem alguns parentes que a consolariam das saudades e eu não tenho nenhum.”
Ah, meu Caro e pensar que um dos primeiros poemas desse Machado com Cabo fora divulgado no periódico denominado” Marmota Fluminense”, só reparo...
Ternas Iracemas, Lucíolas, Gabrielas, Emílias, Helenas estão por aí nas fábricas, aeronaves, plataformas em alto mar, no comando das nações, nos bares, burburinhos, sem nem dar bola pros Bentinhos, seus vagos amorzinhos...
Matriculada em Colégio Católico, uniforme de gala, saia azul marinho, blusa branca de um tecido leve, de compridas mangas, meias três quartos, sapatinhos pretos e uma charmosíssima boina azul marinho induzindo ar de sobriedade, não de liberdade.
O uniforme de Educação Física era de um tecido mesclado rosa, compondo-se blusa comportada, short escapando uma pontinha do joelho , saia pregueada finalizando o modelito. Saíamos borbulhando das aulas, não pela movimentação dos corpos e sim pelo fardo das vestimentas.Somente meninas, os meninos chegaram anos depois, para a alegria contida da moçada!
Os ditames vindos dos generais em décadas anteriores sentenciavam até a hora de recolher nos lares, indóceis ares! As Paradas de sete de setembro, ah …, as paradas, e se nos dessem a escolha de não pararmos? Não tínhamos autonomia nem para decidirmos as cores das flores dos balainhos , os quais sustentávamos durante o desfile.Unindo-me a uma prima que diziam sermos muito parecidas, amparamos uma robusta faixa branca com os dizeres: “ Tudo é primavera no sesquicentenário”, será?
-E a tal independência? - Pura indecência!
Os corpos jovens, privados das imperfeições vindas dos atuais “fast foods” , cabelos pretos, longos, peles rosadas , sobrancelhas naturalmente arqueadas, fartos cílios, frescores, louvores da juventude, estimularam hierarquicamente tais escolhas. Marchávamos delicadamente, tal qual o doce Vaga-lume , um velho cavalo de meu avô que nos conduzia pelos caminhos empoeirados de verdes pastagens.O valor que lhe dedicávamos equiparava- se a um desses eletrônicos endeusados pelas crianças modernas. Nas tais paradas, atrevia-me às piruetas em arcos ornados de fitas e acrobacias matinais, nas ruas de pedras, sem se preocupar com saltos mortais, umbrais!
Findando-se os estudos no dito Colégio Católico, Apostólico, a vinda para Belo Horizonte fora permitida porque ficaria em casa de uma tia materna, Tia Irene, que num segundo levaria-me ao paraíso com a docilidade de Manuel Bandeira:
“ (...)
Imagino Irene entrando no céu.
-Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão: - Entra Irene.- você não precisa pedir licença.”
O curso de Letras estimulou o gosto pelos estilos de épocas interagindo História e Literatura com seus quartetos, tercetos, recontos, nem te conto!
Lisonjeava-me nas aulas de Latim do Professor Jaime, vez por outra, surge o vocábulo “ ludopédio” em minhas divagações…
A saída de casa fora penosa, embora recompensada pelo universo a mim apresentado. Emocionava-me nas páginas de “ Uma vida em segredo”, de Autran Dourado, em “Amar, Verbo Intransitivo” de Mário de Andrade. Reconstituição era a palavra mestra“, antes da chegada do Vesúvio em Os “Últimos dias de Pompéia”.
Dentre tantos versos, parágrafos bem digeridos, recorda-me Canaã, de Graça Aranha,retratando a imigração, tão divulgada, alvejada, essa outra parada...
Em tempos modernos de “Cura Gay ,” a mim, não importa, se Capitu traiu Bentinho, prefiro emaranhar-me nesses versos Machadianos, quando partiu sua doce Carolina.
(...)
"- Foi-se a melhor parte de minha vida, e aqui estou só no mundo. Éramos velhos e eu contava morrer antes dela, o que seria um grande favor; primeiro porque não acharia ninguém melhor que me ajudasse a morrer; segundo porque ela tem alguns parentes que a consolariam das saudades e eu não tenho nenhum.”
Ah, meu Caro e pensar que um dos primeiros poemas desse Machado com Cabo fora divulgado no periódico denominado” Marmota Fluminense”, só reparo...
Ternas Iracemas, Lucíolas, Gabrielas, Emílias, Helenas estão por aí nas fábricas, aeronaves, plataformas em alto mar, no comando das nações, nos bares, burburinhos, sem nem dar bola pros Bentinhos, seus vagos amorzinhos...