Carpe diem
Você se lembra da última vez que desejou que o dia não terminasse?
Quer dizer, não que estivesse pensando, “Olha, seria uma boa, tomará que esse dia nunca acabe”. Não é nada disso – vê se me entende – estou falando daqueles dias, – caso se lembre – em que se vivi completamente tomado pelo presente, sentindo-se bem por isso, sem pensar muito no por que ou para que, apenas vivendo o momento?
Eu mesmo não me lembro muito bem da sensação. Mas tenho certeza que tive muitos dias assim. Isso quando era criança. E, merda, que saudade que sinto daquele moleque besta que existia sem querer que o dia, a semana, o mês, o ano acabasse logo de uma vez – quiçá a vida.
Não que eu seja um desses tipos que ficam esperando o porvir, “o amanhã que está para chegar, onde as coisas serão melhores”. Não. Eu não tenho esperanças. Nem acho que as coisas ficarão melhores (e talvez seja esse tipo de pensamento negativo, que torna a coisa toda ainda mais pesada). Porém, sei que nem tudo é tão ruim. Assim como sei (ou suspeito), que o segredo é exatamente esse negócio de, “viver no presente”, como dizem os grandes filósofos. Apreciar as coisas boas a nossa volta... Carpe diem.
Hoje mesmo comprei mais alguns CD’s e Discos. – Meu quarto está sujo, faz uma semana que eu não o limpo – comprar música me anima. Andei meio borocoxô nesses últimos dias. Sem ânimo para limpar. Nem sei se foi a Sinusite ou a falta de companhia que me causaram todo aquele desânimo de vida. (“todo aquele desânimo”, como essa frase soa estranha nesse momento. “Aquele”, foi praticamente ontem, ou melhor, a poucas horas atrás).
Quase agora eu estava... ouvindo um dos CD’s, o da Billie Holiday. Sinal de que estou melhorando, quer seja da Sinusite ou da tristeza. Antes não conseguia fazer nada; nem ler direito, nem assistir, nem escrever – que é a coisa que mais me dá prazer nessa vida. Nada mesmo. Zero de concentração. Mas ao som da Billie, até vassourei o quarto, abanei o cobertor e o lençol da cama. O ambiente ficou mais agradável, aconchegante. A deprê de a pouco reverteu-se, como num passe de mágica, em um momento presente gostoso. Voltou até o ânimo para ler... E eu tenho que ler o texto da Eva, para a aula de segunda. É sobre os povos indígenas. Vai ter trabalho na sala, por isso preciso me preparar, vacilei no último. E na prova também. Culpa da Sinusite (acho). No caso do trabalho, para ser sincero, não me esforcei como deveria. Não que tenha ficado, assim, tão mal. Mas eu poderia ter me esforçado mais, feito um troço melhorzinho. Subestimei a professora, achei que passava desapercebido. Merda de novo.
Por qual motivo será que nunca, ou, quase sempre, não assumimos nem um centímetro da culpa, da responsabilidade por nós mesmos?
Já reparaste fortuito leitor, que, para muitas pessoas, o que as impede de conseguir, progredir, evoluir, “vencer”, é quase sempre atribuído ao outro e nunca, em hipótese alguma, a si mesmas?
Se eu tirei notas baixas nesse semestre, a responsabilidade não é minha, a culpa é do sistema, que não me deu a base para que eu desenvolvesse melhor. Da vida que eu tenho para ganhar. Desse trabalho que me rouba o vigor, a substância dos meus dias. Do tempo que não me sobra. Do professor, que não soube explicar a matéria conforme eu gostaria. Do sujeito que escreveu seu artigo, ele precisava ter escrito de uma forma tão difícil assim? ... Não, definitivamente, eu não tenho um pingo de responsabilidade por isso, eu não sou o responsável!”
Cansei do ser humano. Cansei de mim.
Você se lembra da última vez que desejou que o dia, a semana, o mês, o ano não terminasse, quiçá a vida?