SUSPEITAS NA POESIA
É sabido que a poesia no Brasil surgiu a partir das composições dos jesuítas integrantes da Companhia de Jesus, autos e poemas avulsos bem edificantes. Com o passar do tempo, tardiamente, foram feitas coletas dessas nossas primeiras letras poéticas cujos textos foram atribuídos em quase sua totalidade, ao padre José Anchieta que, entre todos os padres da época, figura como o mais dotado de sensibilidade poética.
Tempos mais tarde, porém, o padre Serafim Leite, eminente autor da História da Companhia de Jesus no Brasil indaga se os escritos constantes nos cadernos de Anchieta que tanto encantaram a população daquela época e que até hoje ainda causam admiração por tão profunda sentimentalidade e percepção, principalmente das coisas belas da vida são realmente dele.
Serafim Leite aponta sério fundamento para admitir a autoria ou a intervenção do padre Manuel do Couto, no auto de São Lourenço, poesia de fundo religioso que figura nos cadernos de Anchieta, pois o texto tem características bem portuguesas e, na sexta estrofe, traz claras reminiscências de Manuel do Couto e isso suscitou dúvidas ao sábio historiador Serafim Leite se é possível creditar os escritos de Anchieta como sendo todos seus.
Causou-me muita estranheza e certa frustração ter lido, recentemente, no livro “Apresentação da Poesia Brasileira” descrita pelo imortal poeta Manuel Bandeira sobre essa possibilidade.
Após ter tido conhecimento dessa hipótese detive-me a pensar se, realmente, pode haver veracidade em tão grave acusação ou se trata apenas de coincidência, pelo fato de Anchieta ter sido admirador da poética de Manuel do Couto.
Seja como for, cada qual leva para o túmulo a leveza ou o peso esmagador da consciência conforme os atos praticados.
Certas palavras são comumente usadas e até repetidas, muitas vezes, por vários autores nos textos literários ou poesias, mas, evidentemente, há um limite para isso e é preciso atentar para os direitos autorais que resguardam o direito do autor.
Três são as conseqüências que podem pesar a quem, impensadamente, e por não ter talento, ousam copiar textos alheios: primeiro, a pessoa não tem o prazer de dizer em sã consciência que determinado escrito é, de fato, de sua autoria; segundo: pode cair no ridículo de ser desmascarado por pessoas que já leram tais escritos e, terceiro: poderá ter de responder judicialmente pela violação de direitos autorais.
Que o advento da internet e a maior acessibilidade a livros não venha criar desmedidas imitações que, por si só são ridículas e podem macular definitivamente a imagem desses arremedos de autores que, por não serem autênticos, jamais sairão do anonimato, pois não conseguem falar ao coração das pessoas com a naturalidade que caracteriza os probos e autênticos autores.