A ZUADA DA POESIA
O meu Pai era poeta. Acordava a todos nós, rimando versando, cantando e declamando poesias, improvisando com os nossos nomes ou alguma situação que ele achava interessante.
Que raiva acordar com os gritos dele, pois era ainda cedo e ele dizia em alto e bom som as suas poesias.
Que poesias chatas, sem graça e sem vida, acredito que somente ele achava que estava nos interessando ouvi-las.
Um dia eu disse a ele: Pai, pra que fazer tantra zuada nos acordando com poesias, com rimas, com cordéis? Isso enche o saco e nos deixam irritados.
Ele me respondeu assim: Meu querido filho, é com essas ZUADAS, que saio nas noites, declamando poesias ou algumas estrofes de cordéis, para poder trazer o pão que agora está na mesa a sua disposição. E olha, que é tão humilhante quando alguém nem repara no que estou ofertando e quando eles dizem que não quer, logo me vem na mente o rosto de cada um de vocês.
Quando acordo vocês com poesias, é a minha forma mais honesta de agradecer a Deus, por ter conseguido trazer, o pão, o leite, o café, o biscoito e até o dinheiro pra mamãe fazer a nossa a feira, pois é desse oficio que muito eu batalho para cuidar de todos nós.
"No dia que a poesia em mim calar, morrerá não só a palavra, mas minh’alma irá junto com ela", e se um dia, você quiser lembrar de mim, grite bem alto uma poesia, dessas que tanto falo pra voces, para que todos despertem e percebam, que sem poesia, não haveria sentido viver, pois a poesia, e a minha família, foi o que restou para eu brincar de ser feliz.
Um dia, despertei Bem cedo, e a casa estava calada, sem poesia, sem declamações, sem a voz do meu pai fazendo ZUADAS.
De repente, ouço o grito desesperado da minha mãe: Nãooooooooo!!!! Meus irmãos correm para o quarto, eu me desespero com o susto e ao chegar á porta do quarto, minha mãe pranteava soluçando com muita dor e tristeza.
E foi ai que pude ver, que papai, estava sem vida, que não haveria mais poesia, que sua voz não mais iria nos acordar, e que a partir daquele momento, um pouco de todos nós (Feito sua poesia) também morreria em cada um de nós. Choro coletivo, num sentimento de perda, e um vazio enorme nos dominavam a todos.
Hoje, eu acordo, e sinto falta das poesias chatas, e da ZUADA que ele fazia, tentando (ao seu modo) nos agradar.
Quem dera hoje, poder pedir ao meu Pai: declama pra mim só mais uma poesia, aumente o tom da sua voz, grite com força a tua ZUADA tão alegre, e me perdoe se eu não compreendi o teu expressar.
Com os olhos cheios de lágrimas, e visualizando o riso moleque do meu papai, lembrei-me do seu dizer: No dia que a poesia em mim calar, morrerá não só a palavra, mas minh’alma irá junto com ela.