UM HOMEM, UM BARCO E UM TEMPO
Havia um barco, um homem e um tempo.
Um barco de madeira, pequeno e velho.
Um homem cansado, derrotado e velho.
Um tempo desgastado, encrustado e velho.
A morte já era companheira do homem, o banco de areia o destino do barco e os ponteiros quebrados o fim de um tempo.
Mas, de repente… E as histórias são sempre cheias de de repentes…
Uma tempestade e o mar agitado, mas tão agitado como jamais vira aquele homem.
Ondas enormes como jamais sentira aquele barco.
Um tempo sem tempo como o próprio tempo jamais fora.
E o medo do fim.
Do homem, do barco e do tempo.
Agitação e horror e sal e vento.
A escuridão da escuridão tomou o espaço.
O homem, o barco e o tempo.
No entanto…
E as histórias também são cheias de no entantos…
A força, que o homem supunha não existir, passou a ter.
O barco, que supunha o homem não suportar, se segurou.
O tempo, que supunha o homem não mais haver, nunca deixou de ser!
E então, surpreendido por si mesmo e pelas circunstâncias, atravessou o mar e o vento.
Seguiu firme até que o dia e o sol pudessem dar vista de coisa ou de gente.
Enfim, quando assim sucedeu, o homem já estava próximo da terra, vivo e refeito.
Esta pequena história me faz pensar sobre o meu país.
Me faz pensar sobre barcos e tempos e tempestades.
Me faz pensar que estamos à deriva, perdidos e cansados.
Me faz pensar que temos barcos, talvez inapropriados para a grande aventura…
Mas, no meio de tantas outras tempestades já passadas, no meio de tantos tempos já vividos, o que importa o tamanho e a inapropriação?
Que tenhamos a força do velho homem, a resistência do barco e o sentido do tempo…