TEMOR DA LONGEVIDADE

Caetano Velloso tem algumas frases notáveis como esta de que “De perto, ninguém é normal”. Ela me valeria, talvez, como consolo pelo fato de que, diferentemente da maioria, tenho receio da longevidade. Não que a velhice não tenha seus encantos, mas no mundo atual, com suas cíclicas crises econômicas, imóveis perdem liquidez e valor, alugueis tendem a ser receitas incertas, poupança míngua com o passar dos anos e proventos de aposentadoria diminuem seu poder de compra. Tempos de autofagia. Alguém dirá que é bobagem preocupar-se com isto, pois, mais velho, diminuirá muito o consumo do bom vinho e da cerveja, acabará a despesa com o cigarro e das comidas especiais em restaurantes ou em casa, as viagens e festas. Aí, bate o pavor. Como assim? Qual a vantagem, então, de viver mais tempo? Se fosse para fazer este tipo de economia, eu não teria trabalhado tantos anos. Para comer regularmente um peixinho sem tempero ou um frango cozido, vegetais ou legumes, convenhamos, melhor seria ter estacionado nos sete anos de idade, quando até massinha com feijão era coisa boa. Também não nasci para ver novela das oito e dormir cedo. Então, penso: mais dez, doze anos, ficaria de bom tamanho. Com saúde, é claro. Iria eventualmente (e com sorte) até 84 anos, preservando a mesma batida. Aliás, tem gente “começando” a envelhecer nessa idade. O exemplo de JORGINHO GUINLE é inolvidável no que tange à integridade financeira. Já “pelado”, acabou vivendo de favores para conservar o tranco. Numa entrevista, disse: “Me programei para viver até os 80 anos, cheguei aos 86 e me fudi”. Já imaginaram se vingo até depois dos noventa como alguns tios e tias? Mais vinte anos seria muita areia para o meu caminhãozinho. Não faria jus. Ademais, temo que algum governo ainda duplique o imposto de renda para aqueles que vivem muito tempo.