Digressão, ou a Crônica de um Sujeito Revoltado

O mundo não é bom, não é pacífico, não é justo. As pessoas galgam umas às outras para estar no poder, e não há nada e nem ninguém para se importar ou zelar por elas, nem no céu e nem na terra. É tudo vão, efêmero. Mas, o mal, sim, perdura e resiste, pois essa é a lei do mundo. Um modelo insano de destruição e vaidade. Dizem que a natureza é bela e pura, mas ignoram as imperfeições e diferenças que a tornam bruta e cruel. Insistem ainda que o importante é ser forte, e os fracos, naturalmente, não tem vez. No que eu retruco que, se ser forte é ter que devorar para não ser devorado, prefiro morrer de inanição. Eu me recuso a ter essa ânsia, essa fome, essa sede, esse desejo irrepreensível que as pessoas têm, no qual se vêem no direito de esmagar aqueles que, de acordo com o que dizem suas mentes limitadas, não têm nenhum direito de existir. É contra elas que manifesto o meu repúdio.

Na verdade, acho engraçado esse momento da política atual, pois me faz lembrar o quanto as pessoas são hipócritas. Elas lutam e defendem bandeiras, saem às ruas reclamando, atacando, acusando, e cobrando soluções, mas NINGUÉM se dispõe a ouvir e entender o outro, ou, então, oferecer uma saída, uma solução. Considero bastante irônico que saiam para fazer volume em manifestações sociais, mas sejam incapazes de zelar pelo seu colega ou vizinho que está ali do lado. Por que nesse caso a coisa fica difícil? Qual a diferença? Ah, eu sei 'qualé que é'. Quando se é parte de uma massa, não existe consequências em mostrar o rosto, pois ele é só mais um na multidão. Também é muito mais fácil gritar, pois o medo de ser ouvido e condenado pelas próprias palavras é encoberto pelos urros descoordenados e irados de uma massa organizada fisicamente, mas perdida psicologicamente. A sensação - ilusória - de não se estar sozinho é ludibriante.

Agora, quando se tem que se responsabilizar e dar a cara para bater, ninguém vai. As pessoas querem mudanças, mas são covardes para ir lá e criarem por si mesmas, assumindo os riscos e consequências de suas ações. Preferem delegar as suas decisões e cérebros as autoridades e figuras místicas, apesar de muitas vezes possuírem má índole, serem omissas ou nem sequer existirem ou se pronunciarem.

Além disso, existe uma mania de grandeza que acomete o espírito humano. Ele quer fazer parte de algo importante, algo que dê um sentido à sua vida vazia e monótona. Por isso, não tem tempo para ajudar àqueles que estão logo ali, do seu lado, convivendo no mesmo espaço que ele - às vezes deprimidos, ansiosos, ou apenas tão assustados quanto ele. O motivo dessa negligência é óbvio: isso não é excitante, não é grandioso, não vai impressionar ninguém, não vai dar nenhum sentido maior para as vidas de merda nas quais elas se submeteram VOLUNTARIAMENTE. É, é isso mesmo! Voluntariamente! Cada vez que se acovardaram em lutar e assumir riscos para ter a vida que gostariam de ter, foram eles mesmos os responsáveis pelo seu fracasso. Cada vez que optaram pelo caminho mais "seguro", abdicando de sua liberdade; cada vez que abandonaram uma pessoa que amava para estar do lado daquela que lhe daria mais "recursos" (relações utilitaristas); cada vez que usurparam ou se permitiram ser usurpados em prol de um benefício, por medo ou apenas por vaidade; em todos esses momentos, foi dada uma auto sentença de morte. Mas, é claro, é muito mais fácil culpar a família, a escola, a política, a sociedade, o Bolsonaro, ou o que quer que seja do que assumir a responsabilidade pela droga das próprias escolhas.

É isso tudo o que me faz perder a fé e a esperança na humanidade. Eu estou disposto a lutar por algo real, que mude as coisas de verdade, mas as outras pessoas não querem isso. Elas querem apenas satisfazer o seu ego, e nada mais. Nada mais importa. É tudo falso! A sociedade brasileira está enganando a si mesma. O ser humano está enganando a si próprio. E diante de toda essa situação, eu me ponho a pensar: É por esse bando de egoístas inveterados que eu estou lutando? É por eles que estou dando o meu sangue? É em prol desses estúpidos que estou dispondo do meu tempo e atenção? É por eles que estou me sacrificando?

Atualmente, o país está dividido, uns brigando para não virar Venezuela, e outros para não ter Ditadura. Mas, no fundo, são tudo farinha do mesmo saco. Nenhum deles vai fazer nada para mudar o país. A luta é individual, não é e nunca foi coletiva. Essa luta, meus caros amigos, não é minha, nem de vocês, e nem de ninguém. As pessoas estão em conflito é consigo mesmas, e não há nada que possamos fazer. De minha parte, eu desisto. Deixem elas se matarem! Que se devorem até o último osso! Quem sabe no final de tudo sobre alguma coisa de valor? E se não restar, que se dane todo o resto!

Arthurx
Enviado por Arthurx em 22/10/2018
Código do texto: T6482749
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