No Silêncio Das Revoluções
No Silêncio Das Revoluções
De tempos em tempos, termos como o verbo “Revolucionar”, o substantivo “Revolução” e o adjetivo “Revolucionário” fazem avassaladora visita à mídia, ganhando corpo nas vozes dos que a acompanham e dela fazem uso, o que acaba por aproximar, constante e perigosamente, tais vocábulos de uma inegável susceptibilidade à banalização instituída pelos caros imperativos e persuasivos apelos da informação pronta, da análise superficial, da opinião gratuita, do consumo fácil e da comunicação imediatizada.
Revolucionar significa, em tese, provocar mudanças com vista a melhorar as condições de vida de uma sociedade. No entanto, findas as fases ideológica e mobilizadora, que são, sem sombra de dúvida, dentre as inúmeras etapas com que se constroem os alicerces de qualquer revolução, as mais espetaculares ou passíveis de espetacularizações romanescamente concebíveis, na prática, nem sempre é bem assim que as coisas acontecem. Afinal, muitos dos filhos das mais bem intencionadas revoluções revelam-se, com o transcorrer do tempo, tão ditatoriais quanto os ditadores contra os quais se insurgiram.
É fato que jamais se saberá quais serão as vontades que passarão pela mente de um revolucionário a partir do momento em que este for apresentado ao poder e às vantagens e facilidades por ele oferecidas . Contudo, cabe ao revolucionário que se preza portar consigo a consciência de que, por não terem donos, os benefícios provenientes das mudanças propostas ou instauradas por intermédio de uma revolução não se devem limitar ou restringir à pequeníssima elite costumeiramente formada e fechada em torno de si e de seus idealizadores.
Deve-se compreender, acima de tudo, que toda revolução é, em suma, a soma e o produto de um conjunto de atos públicos. Desta forma, há que se excluir de qualquer conduta revolucionária, se é que existem, de fato, condutas revolucionárias, a intenção de se sobrepor um projeto político individual às verdadeiras aspirações de um ente que, por mais coeso que seja ou pareça, é plural: a sociedade.
Além disso, mostra-se imprescindível a lembrança de que o nível de eficácia de uma revolução é inversamente proporcional ao número de vidas que em nome dela se perdem. Isto quer dizer que, quanto menor é o número de vidas perdidas em prol de uma revolução, maior é a sua eficácia.
Não se mede a importância de uma revolução pelo prestígio social dos heróis que gera, uma vez que a atribuição do status de herói a um homem, longe de elevar individualmente este homem, valoriza-lhe a luta e lhe eterniza o esforço.
Hebane Lucácius