Um marrom com o brilho das estrelas
À meia-noite do dia 31 de dezembro de 2015, os fogos de artifício passaram a colorir a noite e o início da madrugada, em todo o Brasil, e os brasileiros começaram a desejar, reciprocamente, um ‘Feliz Ano Novo!’.
Um ‘Feliz Ano Novo!’ também os porto-felicences desejaram entre si. Todavia, pelo menos na Terra das Monções, a realidade do início de ano foi bem diferente, pois ‘alguém’ muito querido, na cidade, ‘Estava internado com o coração fraco e os rins comprometidos’. E ‘Faleceu na madrugada do dia 1° para o dia 2/01/2016. Amarelo, Marrom, Alemão... ele tinha vários nomes. Mas não tinha um dono, nem uma casa. Era de todos, embora tivesse quem cuidasse dele. Vivia nas ruas, mas era imune. Morava no Parque das Monções, sob o ar-condicionado da seção de autoatendimento dos bancos, nadava no rio, participava dos ensaios do grupo de teatro local, frequentava a missa, era modelo fotográfico de muitos fotógrafos e até fez ponta em uma matéria do programa Revista de Sábado da TV Tem. Não sabemos de onde ele veio, mas não importa. Agora, assim como as notas musicais que voam para longe levadas pelo vento, vai a alma do velho amigo. Que a história dele sirva de inspiração’.
As palavras acima expressam o sentimento da Corporação Musical ‘União Porto-Felicence’ e foram colocadas, no dia seguinte, no Facebook. E resumem, seguramente, o sentimento de todos os porto-felicences com relação ao ilustre animalzinho que partiu repentinamente.
Ele era ‘apenas’ um cão sem dono. Um cão de muitos nomes que, ao mesmo tempo, não era de ninguém; todavia, era amado por todos. Era uma presença silenciosa, mas cuja existência era retumbante nos corações porto-felicences.
Marrom, Amarelo, Alemão, Lelo, Churros... Qual era, de fato, seu nome verdadeiro? Esse detalhe me fez lembrar que O Criador, apenas na Bíblia, recebe inúmeros nomes: Elohim, El Shaddaai, Adonai, Jeová/Yahweh... E, de outras religiões e crenças: Allah, Brâman, Olorum, Oxalá, Zambi, Guaraci...
Marrom, provavelmente, tinha tantos nomes quantos lhe deram as pessoas que o conheceram e o amaram. E, se por um (ou vários) nome é possível identificar um ser ou um objeto, mais difícil (ou impossível) é distinguir toda a gama de sentimentos que uma ausência produz na alma de cada um.
Como podemos descrever com a razão sobre um ser que não era dotado dela? Palavras, por mais belas que sejam, talvez, não consigam expressar o que esse cão representou para a população porto-felicence (e para todos os que amam os animais). E, quando não encontramos palavrar para tal mister, o melhor é deixar que nossas lágrimas falem por nós.
Marrom não deixou os porto-felicences. E nem aqueles de outras terras que amam os animais. E como o poderia se, quando entre todos nós, imprimiu sua alma em cada degrau, em cada árvore e até mesmo no rio que banha a Gruta?
Alguns anjos têm asas; outros, pelos. E passam pela existência terrena, auxiliando na redenção da humanidade.
Na noite do Ocidente, uma das constelações que mais se destaca, por seu brilho, é a de Órion (na qual se encontram as ‘Três Marias’), que reproduz a figura mitológica de um caçador ou de um guerreiro gigante em companhia de seus dois cães de caça (representados pelas constelações Cão Maior e Cão Menor).
Na próxima noite estrelada, amigo leitor, permita-se contemplar o céu. E constate, com o coração pacificado e a alma em júbilo que, na constelação de Órion, há mais uma: a do Cão Marrom!