Pós-modern-idade

O homem pós-moderno fruto de várias culturas, informações as mais diversas, vive mergulhado num choque entre a razão e a queda de valores sociais e morais, absorvendo no dia-a-dia cada vez mais individualizado, elementos tão díspares, como por exemplo a perda da referência pátria, já que as distâncias entre os lugares são quebradas em poucos segundos. Ele trafega entre mundos absolutamente dferentes e iinfinitamente iguais. Fazendo menção à cultura japonesa, tradicional, milenar, que ritualiza tudo, como por exemplo as refeições, o respeito aos idosos, a não-pressa e a devastadora tecnociência com sua rapidez estonteante, a cada segundo tornando o segundo anterior obsoleto, evoca a faceta do homem pós-moderno. Não tem identidade própria, deve estar atento a todas as informações, expectador de um mundo que tornou-se o quintal da própria casa. Impossível engajar-se em algo que nem sabe o que é. Não sendo de lugar algum,COMO SER ALGUÉM?

A rapidez com que se constróem máquinas, computadores com chips mais avançados, capazes de quebrar a supremacia do raciocínio humano pela velocidade dos cálculos, a medicina avançando em termos antes meramente ficcionais e tentando levar ou postergar o homem à imortlidade, vantagens? Sem dúvida. Mas, mesmo estas vantagens tem um senão a coçar a orelha: a ética foi pro espaço. E a humanidade que sempre sobreviveu baseada, construída sob certas regras de conduta, parece estar hoje com os dias contados.

Desvantagens de se viver numa época em que tudo é possível e praticamente realizável. A máquina realiza o trabalho mais estafante e ingrato que o homem jamais teve que executar. A babá eletrônica controla o choro do bebê que a mãe cansada após um dia estafante no shopping, não tem condições de perceber. As famílias, antes núcleos de orientação, manutenção de um status quo, vem sendo rapidamente substituída por televisão, passeios, festas, padrastos, madrastas, amigos, conhecidos, viagens, terapeutas, psiquiatras, gurus, ídolos, modismos, que de tão rápidos que passam nem se dão a conhecer. Em crise de identidade cultural, não se engaja mais sob o ponto de vista político, coletivo... Hermetiza-se e seu lema é experimentar. Perde o sentido de humanidade.

Vantagens obtidas pela liberdade de escolha. Pela possibilidade de divergir. Conhecer o mundo através da tecla, do botão do micro ou da televisão. Conversar em Inglês com um chinês morando no Japão e que nasceu numa aldeia onde nunca havia comido nada além de arroz. Vantagens de não ter que se apegar a conceitos pré-concebidos, que embotam o cérebro e enferrujam a mente. Poder ousar. Poder supor que toda esta ciência e esta tecnologia sejam de alguma forma usadas para resolver os problemas da humanidade.

Desvantagens são as possibilidades, que o excesso de conhecimento e poderio que proporcionam a uns poucos, sejam usados como forma de escravização para os que ainda não chegaram lá. Ou como dizia Beckett em " Esperando Godot": Nada a fazer...

Para o pós-modernismo a imagem é mais importante que o real. Em relação à violência, faz parte deste universo. Não há valores a serem respeitados, a vida já não significa nada. O homem com o advento da bomba atômica pôs por terra o princípio que regia a humanidade. A esperança. A partir de então trouxe à tona a possibilidade de destruir. Não simplesmente destruir e ser refeito, mas a consciência de que tinha e tem nas mãos o seu próprio destino. Entender que num piscar de olhos pode acabar com tudo dá a dimensão exata da insignificância do outro.

Enfim: A violência faz parte do cotidiano. Pode-se tudo. Mas, se está só!

CIDA PIUSSI -17/06/97.