O ato de escrever
Os seres humanos nunca tiveram, em toda a história da humanidade, tanta facilidade para aprender a ler, escrever e pesquisar quanto estão tendo nos tempos atuais. E isso porque o Ensino Público se universalizou, as bibliotecas (inclusive as comunitárias) se multiplicaram e as fontes de pesquisa, encontradas por meio de um dos maiores instrumentos para tal fim – o Google, dentre outros – estão acessíveis num simples clicar do mouse.
Apesar disso, o mundo atual, pelo menos no Brasil, traz uma gritante contradição: por um lado, o número absurdo dos denominados analfabetos totais, ou seja, aquelas pessoas que não têm qualquer nível de alfabetização. De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2012 e divulgada em setembro de 2013, a taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 8,7%, o que corresponde a 13,2 milhões de analfabetos no país. E, segundo a UNESCO (Organização das Nações Unidos para a Educação, Ciência e Cultura) esse problema está relacionado com a má qualidade da educação e a falta de atrativos nas aulas e de treinamento adequado para os professores.
De outro lado, mas na mesma linha, e talvez ainda pior do que esse dado é aquele que reflete o chamado “analfabetismo funcional”, que é “a incapacidade que uma pessoa demonstra ao não compreender textos simples. Tais pessoas, mesmo capacitadas a decodificar minimamente as letras, geralmente frases, sentenças, textos curtos e os números, não desenvolvem habilidade de interpretação de textos e de fazer operações matemáticas. Também é definido como analfabeto funcional o indivíduo maior de quinze anos possuidor escolaridade inferior a quatro anos letivos, embora essa definição não seja muito precisa, já que existem analfabetos funcionais detentores de nível superior de escolaridade. Segundo dados de 2005 do IBOPE , no Brasil o analfabetismo funcional atinge cerca de 68% da população. Somados esses 68% de analfabetos funcionais com os 7% da população que é totalmente analfabeta, resulta que 75% da população não possui o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas, ou seja, apenas 1 de cada 4 brasileiros (25% da população) é plenamente alfabetizado, isto é, está no nível 3 de alfabetização funcional. O censo 2010 mostrou que um entre quatro pessoas são analfabetas funcionais. A porcentagem é de 20,3% de analfabetos funcionais”. (Wikipédia)
Portanto, no Brasil, significativa parte da população, de uma forma geral, ou não sabe escrever, ou, quando sabe, escreve mal. E, dos que sabem ler, escrevem mal porque também leem mal (e aqui significa ler textos sem muita qualidade literária) e desconhecem regras básicas da própria língua. E tudo isso alinhavado com uma falta generalizada de conhecimentos gerais.
O ato de escrever, no entanto, é um ato religioso. E, quando digo “religioso” evidentemente não estou querendo identificá-lo a qualquer denominação religiosa em particular. Refiro-me, por analogia, ao respeito que, semelhantemente ao ato de entrega entre um ser humano e o Deus cultuado por ele, o escritor, de forma amadora ou profissional, deve ter com o destinatário de seus textos e reflexões.
E, por respeito, entendo não apenas a mensagem do texto em si, elaborada de forma a chegar ao destinatário claramente, sem ruídos, mas, também, dentro do próprio processo de elaboração textual, o qual se inicia às vezes como uma ideia vaga e paulatinamente vai ganhando contornos.
O escritor é, indubitavelmente, um criador de mundos. Mundos incorpóreos. Pequenos ou imensuráveis. Mundos refletidos num singelo comentário nas redes sociais, e-mails e cartões de felicitações, ou num livro best-seller.
O ato de escrever é a oração do escritor, na qual ele, no silêncio de seu espaço físico, reúne, em torno de sua alma, o cabedal de conhecimentos e sentimentos adquiridos nas experiências da vida. Para o escritor, o papel é a alva toalha do altar; a pena, o aspersório. E o texto final, a sua bênção!
Você vai escrever um comentário no Facebook ou comentar uma bela mensagem recebida num e-mail? Ou, ainda, escrever algumas palavras felicitando por um aniversário, um nascimento ou uma formatura? Escreva, sim! Mas, faça de seu singelo texto um quadro de um Da Vinci ou a escultura de um Michelangelo, pois o tempo e as pessoas passarão, mas você, em seu texto, ecoará na eternidade!