Esculpindo um texto

Estou diante do meu computador, instigado, mais uma vez, por um lampejo de criatividade. É o momento de dar à luz mais uma crônica.

Dou o primeiro e imprescindível passo: colocar um fundo musical. Numa altura que não se sobreponha à ebulição dos pensamentos.

Abro o editor de textos Word. Uma alvíssima página virtual em branco se descortina à minha frente. E, imediatamente, e sem aparente explicação, me vem à mente a imagem de Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, mais conhecido simplesmente como Michelangelo, pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano do século XV, considerado um dos maiores criadores da história da arte do ocidente e conhecido como ‘O Divino’, autor, dentre tantas esculturas e pinturas célebres, da escultura ‘Moisés’, esculpida entre 1512 e 1515.

A associação da imagem de Michelangelo à da tela em branco, num primeiro momento me intriga. Entretanto, aos poucos a associação ganha contornos definidos. E concluo que o escritor também é um escultor. Seus dedos sobre o teclado, o martelo; a soma de conhecimentos, seu cabedal cultural e a inspiração, o cinzel. A página em branco, a matéria-prima.

Em vez de uma peça bruta de mármore, tridimensional, porém, esculpe seu texto numa página em branco, bidimensional.

Em duas dimensões físicas, no entanto, o escritor esculpe ideias, mundos de tantas dimensões quanto são as do espírito humano.

Conta-se que Michelangelo, após terminar de esculpir a estátua de Moisés, passou por um momento de alucinação diante da beleza da escultura. Bateu com um martelo na estátua e começou a gritar: Per ché non par li? (“Por que não falas?”)

Tanto um ‘Moisés’ quanto um texto (em forma de poemas, crônicas, romances), porém, são fontes torrenciais de diálogos, imagens e sentimentos mudos, que cabe ao seu admirador, ao seu leitor, ver e ouvir. E, acima de tudo, sentir!

Estatuárias e outras formas de Arte, bem como livros, são a alma e o pensamento humano que se manifestam e ecoam pela eternidade. E, certamente, são estas manifestações do espírito que nos galardoam, verdadeiramente, com a transcendência da palavra HUMANIDADE!