"GRUPO DE TRABALHO"
Nos meus últimos anos de advogado no Banco nem mais me designavam para grupos de trabalho. Já conheciam meu pensamento. Mas, nos meus primeiros tempos de Assessoria Jurídica, às vezes me competia carregar a cruz. Lembro de ter sido designado para determinada reunião fora do prédio, localizado a boa distância, o que demandaria uma tarde de trabalho, praticamente. Havia mais de dez pessoas, talvez mesmo quinze, representando diversas áreas da Instituição. O intento, já bem avançado, era o do lançamento de sorteio e prêmios relativamente a produtos do Banco. O coordenador do grupo foi escalando quem falaria e, pelo critério, percebi que seria dos últimos. Talvez por ser do Jurídico, que, seguidamente, encontra alguma resistência no seio da corporação, não sei. Falaram, falaram, pausa para o cafezinho, e mais trololó. Não conhecia ninguém. Arquitetaram tudo, com esquemas mirabolantes, marcaram data e já queriam acionar a diretoria para o acontecimento. E eu, quieto, só pensando qual seria minha programação à noite. Finalmente, me propiciaram espaço à manifestação: “E o Jurídico, o que tem a dizer?” Então, calmamente, elogiei o trabalho de todos e fiz a perguntinha mágica: “Vocês já obtiveram a competente autorização?” Foi um silêncio sepulcral, olhares interrogativos se cruzando, até que o coordenador perguntou: “Mas precisa?” “É claro!”, respondi e expliquei rapidamente, nem mais recordo como era. O coordenador ficou de fazer consulta formal, agradeceu a presença de todos - que saíram um tanto cabisbaixos - e, tanto quanto me lembre, não se ouviu mais falar no assunto.