UM EPISÓDIO COM O PT

Para não alimentar discussão que não levaria a lugar algum, vou logo dizendo que sou relativamente conservador, mas propugno por ideais social-democratas. Não tenho simpatia partidária e ainda procuro candidato presidencial para sufragar. Já votei algumas vezes no PT, em Lula e companhia e no Olívio Dutra, pois este defendia um Banrisul estatal, lucrativo e forte. Tinha conhecimento da iminência da pretendida privatização do Banco, o que seria danoso especialmente para o corpo de empregados e comunidade, com reais vantagens apenas para alguns poucos. Aquele momento não comportava nem a correta e isenta discussão do assunto. Mas sabia dos meus riscos pessoais e funcionais com a ascensão daquele novo Partido ao Governo do Estado, já que eu possuía notórias ligações com gestões anteriores. Como já ocorrera na Prefeitura Municipal de Porto Alegre, haveria inversão da pirâmide: muitos debaixo subiriam como foguetes e a grande maioria do ápice seria desbancada. E não deu outra, pois assim é a política. Como ouvi de colega, era instante de abrir espaço para “gente nova”. Há cinco anos e meio, pela experiência como advogado, eu chefiava, então, o NÚCLEO CONSULTIVO E PREVENTIVO DA ASSESSORIA JURÍDICA DO BANCO. Como era minha convicção, logo depois de empossados os novos diretores, certo dia adentra minha sala um colega bem amigo e valoroso, cumprindo seu papel: era o novo Chefe da Assessoria Jurídica e ali estava para empossar um outro Chefe de Núcleo, que comigo trabalhava, um belo colega. Tirando a forte perda financeira (equívoco organizacional histórico da instituição), nada de anormal, cada um no seu quadrado, queixas só mesmo “perante a Liga Náutica”. Com o natural constrangimento da situação, o novo chefe maior fez pronunciamento rápido e comunicou a alteração deliberada por decisão superior. Ainda que preparado para tanto, nunca é um momento delicioso. Quando estavam se levantando, soltei o meu tradicional “Um momentinho!” e fiz um detido agradecimento a todos os competentes colegas que labutaram lado a lado comigo durante tanto tempo e realizaram relevantes trabalhos. Depois, naturalmente que fui para a vala comum, numa mesa pequena, de canto, junto a outros vários colegas. Aquilo não me tirou pedaço e não afetou meu rendimento. Tampouco amizades. Um ano depois, fui convocado para função mais importante e bem melhor remunerada, como se Chefe fosse. Agir como profissional compensa. Ninguém nasce com este ou aquele cargo, apenas com o dever de sempre bem agir.