O último balão

Os meses de inverno da minha infância eram muito frios. Principalmente à noite. Mas, talvez fosse esse frio intenso, gélido que completava a magia de uma das épocas do ano mais mágicas, para mim: as festas juninas!

E, como não poderia deixar de ser, em muitos bairros os moradores se reuniam para montar os arraiais, com as barraquinhas onde, na dificuldade financeira, tinha de decidir entre os pinhões, bolo de milho, canjica, curau... e, às vezes escondido, pela ‘benesse’ de algum adulto, até vinho quente ou quentão, pois, naquela época, ‘ficar com lombrigas’ era coisa muito séria.

Tudo era divertido! Porém, havia algo que era mais do que divertido; era mágico: ver, nas noites frias e mal iluminadas pelas luzes da cidade, os balões que cortavam o céu.

E havia balões de tudo quanto é tipo, sendo que, para as pessoas mais pobres – como eu – era de se contentar em soltar (e, depois, correr atrás) tão somente o famoso e pequenino balão ‘chineizinho’.

Na minha infância, pois, duas grandes coisas marcavam as minhas noites no inverno: as estrelas (eu sabia o nome de muitas delas) e os balões juninos, competindo com o brilho das estrelas.

Todavia, chegou um tempo em que os balões deixaram de ser luzes de sonhos no céu. Comecei a ouvir falar dos balões dos adultos, aqueles que, ao cair, incendiavam casas, prédios, fábricas, plantações. Inclusive os meus chineizinhos!

Não! Não! Não era possível que os balões incendiassem casas, plantações... Não! Os meus balões só incendiavam a minha imaginação!

E de nada adiantou esse argumento, pois chegou um dia, finalmente, um fatídico dia em que os balões se tornaram ‘fora-da-lei’.

A partir de então, minhas noites de inverno, minhas festas juninas só podiam contar com as estrelas do céu. Mas eu, menino ainda, continuei olhando todas as noites para os céus juninos. Talvez alimentando a esperança de pelo menos ver... o último balão!