NOSSOS ÍNDIOS BUROCRATAS

Li que, no ano passado, o Governo tentou impor nova alíquota de 35% de imposto de renda na fonte a todos os que ganhassem mais do que vinte e três mil reis por mês. O papo ressurge agora para quem ganha, 30 mil mensais. Dá para concluir que, segundo nossos fiscalistas burocratas, tais remunerações seriam de pessoas “ricas”, como, por exemplo, juízes, desembargadores, promotores ou procuradores, auditores fiscais, advogados, diretores de empresas menores ou médias, médicos, dentistas, enfim, para várias categorias da classe média dita alta ou quase lá. Não sei se um jogador mediano do Juventude de Caxias firmaria contrato por 30 mil por mês, ou do Atlético Paranaense ou do Figueirense. Por outro lado, o retorno em serviços públicos, para esses sábios tributaristas, deve ser muito satisfatório, na saúde, educação, infra-estrutura, segurança e outros itens, tal qual nos países desenvolvidos. Eles devem também acreditar que as deduções permitidas pelo Imposto de Renda na Declaração Anual são justas e adequadas na educação na saúde, na previdência privada e quanto aos dependentes, por exemplo. A gente vive na Suécia e não sabe. Se tais ideias ganharem efetividade (há candidatos que registram patrimônio pessoal modesto, até comovente), “arrependo-me” de haver estudado e trabalhado por tantos anos para atingir certo patamar. Muitos jovens pensariam dramaticamente sobre a inocuidade do aperfeiçoamento técnico e científico, sobre a validade do trabalho árduo e o sentido de galgar degraus na profissão ou na carreira, com sacrifício pessoal. E o empreendedor que arrisca muito? E os trabalhadores competentes e dedicados que dirigem os grandes capitais (que, proporcionalmente, pouco pagam ou, então, sonegam, manobram)? Parece que o melhor mesmo é gostar de pescar e de viver no despojado conforto de uma choupana à beira- mar, calção e chinelo de dedo, de preferência só e com uma boa rede para a longa sesta. O resto, afinal, o Governo poderia tomar: pelo Imposto de Renda ou por outros pesados tributos em tudo que tiver de adquirir. Quem vivia bem era nosso índio. Muitos de nós evoluíram, outros nem tanto.