Até que o dia nos separe

viu como o silêncio toma conta da cidade a noite?
Enquanto anoitece, os sons urbanos vão diminuindo aos poucos. Dá até pra ouvir o raro vento lá fora se estiver e puder estar com a janela aberta.
A gente senta ali num quarto, num canto ou numa sala qualquer em um desses dias em que a sorte deixa a gente ficar sozinho um pouco. Estamos tão distantes uns dos outros que nem imaginamos quantos somos naquele momento e o quanto estamos ligados na mesma vibração.
Enquanto a cidade cala, nossos corações começam a falar, bem alto por sinal. Chamam as memórias e as lembranças, trazem a tona nossas revoltas pelos "não ditos" e "não feitos", derramam um monte de "porques" em tom de deboche, pois sabem eles que nossas respostas nem sempre servem ou dão certo para aqueles de "lá de fora".
A gente mesmo sem perceber, vai vivendo juntos. Eu, você e outros tantos por aí que antes de dormir e fazer parte do silêncio da noite, passam e repassam na mente toda a história, fato, encontro e desencontros vividos tentando achar ali, meio que perdido aquela decisão que podia ter sido tomada ou não...vai saber. Tem dias que somos campeões, noutros estamos em segundo ou terceiro lugar e ainda há aqueles em que só cumprimos a maratona, lá entre os últimos.
Na noite silenciosa, nós somos os tolos que choram e riem em seguida do que foi e do que não foi das nossas vidas, no mesmo instante em diferentes lugares, sem sabermos das nossas próprias existências.
Por este ponto de vista, você percebe o quanto um noite silenciosa é barulhenta.
A noite passa, o raiar do sol já vem e mais um dia estronda. Os corações da noite se calam diante da cidade barulhenta, na certeza que mais tarde eles voltam a se encontrar, mesmo sem se ver...como uma onda.
Tem dias em que a sorte deixa a gente ficar ali sozinho um pouco.