CASAMENTO É BOM?

Casamento, união estável, vida a dois, não importa. Vou deixar de lado as relações alternativas, que já comentei bastante em outros textos. Não falo em causa própria, embora a experiência na aérea sempre ajude. Tenho visto muitas separações, que se avolumam por conta de rompantes e frustrações individuais, que seguidamente denotam despreparo dos que fizeram votos de se unir por toda uma vida. O mundo atual aguça o egoísmo, atiça fantasias, vendendo ilusões no varejo e no atacado. Não propugno por vínculos indissolúveis, muito menos pela mantença de certas situações anômalas e severamente desconfortáveis para os dois ou só um dos parceiros. Meu enfoque é outro, respeitando sempre a casuística. A vida conjugal é ondulação rotineira, sem muita adrenalina, centrada mesmo em banalidades. Já preconizaram que a paixão é reação química, que dura até dois ou três anos. No mais, são filhos – grandes transformações da vida em comum – a mantença da casa, a escola, o trabalho, parentes e os ajustes comportamentais para a coexistência diária pacífica. Claro, há eventualmente bailes, botecos, aniversários, férias e viagens empolgantes. Geralmente não muito mais do que isto. Mas acham pouco? Afinal, o comum da vida não é o coração em disparada, isto é coisa de cardíaco. O habitual são os pequenos prazeres, o conforto da solidariedade e a cálida tranqüilidade de que se está pisando em terra firme e território amigo. Vale também para os solteiros, com algumas variantes, pois também se relacionam. A fantasia é boa porque é apenas fantasia; quando se realiza, também vira rotina e se desgasta como tudo. Portanto, talvez a ideia de casamento deva ser repensada, no mínimo em homenagem aos filhos. Não há receita e nem se pode dar um conselho firme, mas talvez as pessoas precisem se conhecer melhor, namorarem mais, amadurecerem ou serem simplesmente mais tolerantes e menos exigentes. Tem havido muita ânsia “em ser feliz”, mesmo que não se saiba exatamente como atingir esta bem-aventurança onírica. Alguns já são felizes e não se dão conta. O tal do “quero ser feliz” virou mantra, quase ideologia, da pós-modernidade, em que cada um só enxerga o próprio umbigo. Mas, se tiverem de partir para outra, tudo bem, a esperança é sempre a última que morre.