Cinemas de Recife que conheci
Na minha adolescência, cinema era uma das mais caras diversões. E havia nas telonas, uma verdadeira magia. Quantos cinemas cheguei a conhecer! Era uma festa. Entrar no cinema era mágico. Chegava quase sempre acompanhado. Quer de colegas de rua, ou de amigos de jornadas, de irmãos ou de meus pais (na infância), ou de alguém, que de cinema também gostasse.
Algumas vezes também, entrava sozinho, e lá permanecia, para assistir ao filme solitário. O importante mesmo era a magia do cinema.
De todos os que conheci, o cinema São Luiz foi, e continua sendo, o mais luxuoso, o mais requintado, o de maior glamour. Era tanto o glamour que, para ter direito a entrar no cinema, até final da década de 50 do século passado, era obrigatório o uso de paletó e gravata. E mulheres, preferencialmente, usavam vestido longo. Ir ao cinema São Luiz era como ir assistir a uma ópera. Quantas vezes não aconteciam as famosas Sessões da Meia Noite, onde ocorriam pré-estreias ?
Foi lá onde assisti à filmes famosos como A noviça rebelde, a trilogia Sissi, com a encantadora Romy Schneider, A conquista do oeste,
Foi lá também, que funcionou durante algum tempo o famoso e saudoso Cinema de Arte, no qual, aos sábados às 10h da manhã, aconteciam sessões com filmes de arte, não mais exibidos nos circuitos comerciais, ou mesmo inéditos, como o magnífico Sempre aos Domingos, Melhor Filme da Minha Vida, e muitos outros.
Foi lá onde assisti pela primeira vez na vida a um filme com censura de 18 anos. Eu tinha 14 mas, utilizando de uma carteira falsa, consegui entrar no cinema, acompanhado do meu costumeiro companheiro de jornada, meu primo Jomar. Foi uma emoção inigualável que, ainda hoje me recordo. O filme foi Charada, com Cary Grant e Audrey Hepburn, direção de Blake Edwards e com música de Henry Mancini.
Conheci dois outros cinemas com o mesmo nome – São Luiz. Um em Fortaleza, Ceará, e o outro no Rio de Janeiro, no Largo do Machado. Mas, nenhum dos dois se comparava nem de longe, ao cinema do Recife que, ainda hoje, guarda sua pompa para quem quiser conferir.
Um pouco inferior ao São Luiz, havia o cinema Moderno, localizado na Praça Joaquim Nabuco, onde hoje funciona uma loja de eletrodomésticos. O Moderno tinha também poltronas acolchoadas, e em uma coisa era melhor que o São Luiz – na plateia do primeiro andar, a primeira fila, que era o meu lugar preferido, à frente ficava um parapeito da altura da cintura, o que permitia que se visse a tela sem esforço. E a grande vantagem é que ninguém sentaria na sua frente para empatar a visão. No cinema São Luiz, essa fila dava para um parapeito mais alto e, mesmo para mim que já era alto, para poder enxergar a tela tinha que fazer algum esforço, o que terminava por me fazer sentar na segunda ou terceira fila. E foi lá, no cinema Moderno, que assisti a filmes históricos como, por exemplo, Zorba, o grego, com música de Mikis Theodorakis. Também os filmes de James Bond.
Os outros dois cinemas do centro eram o Art-Palácio e o Trianon. O primeiro localizava-se na rua da Palma e o outro na av. Guararapes, em frente ao prédio dos Correios. Apesar de também serem com poltronas acolchoadas, não tinham o glamour dos dois anteriormente mencionados. Mas foi lá nesses dois cinemas, especialmente o Trianon, onde assisti a ótimos filmes.
Fora do circuito central e, considerados “cinemas de arrabalde”, o que significava, cinemas de bairros, havia também, no centro, mais 5 cinemas – o Ideal, o Glória, o Boa Vista, o do Parque e o Cinema AIP.
O Ideal ficava na Praça do Terço, 61 ou na rua Vidal de Negreiros. Durante algum tempo, a exemplo do que ocorria no cine Glória, apresentava programa duplo, no qual com um só ingresso, o espectador tinha direito de assistir a dois filmes. Lá eu assisti a grandes filmes como Malamondo, Os cafajestes, Verão violento e outros.
O cine Glória fica na praça do Mercado, na rua Direita, (ainda em funcionamento). Lá eu vi também grandes filmes.
O cine Boa Vista ficava na praça Chora Menino, na Boa Vista. Embora na região central do Recife, era considerado cinema de arrabalde.
O cinema do Parque ficava localizado no Teatro do Parque que ainda hoje funciona na rua do Hospício, próximo da rua da Imperatriz.
O Cinema AIP era um cinema onde eram exibidos filmes de arte e funcionava todos os dias em sessões contínuas, na av. Dantas Barreto, no 13º andar do prédio da AIP. Às segundas feiras, à noite funcionava o Cine Clube Projeção 16, a cargo da direção do jornalista e crítico de cinema Ivan Soares. Lá eu vi muitos filmes famosos e raros como As três faces de Eva, por exemplo. Era distribuído aos espectadores, uma folha de papel com a ficha técnica do filme e um resumo de seu enredo. Ao final da folha, havia também uma crítica de algum expert sobre aquele filme.
Posterioremente, já na década e 70, foram inaugurados mais três cinemas no centro do Recife. Primeiro veio o Veneza, em 1971, na rua do Hospício, em frente às Lojas Americanas, que foi inaugurado com o filme Aeroporto, com som especial. O cinema era muito luxuoso, mas não se comparava ao cinema São Luiz, que entre outros luxos, tinha o espetáculo dos dois vasos de flores coloridas em cada lado da tela, que eram acesos durante alguns segundos, antes do início das sessões, sempre após as 3 badaladas que antecediam o apagar das luzes.
Logo em seguida era apresentado o jornal. Sim, havia em todas as sessões um jornal de atualidades, conhecido como o Jornal da Atlântida. Em seguida vinham os thrillers dos próximos filmes e finalmente iniciava a projeção do filme propriamente dito da programação.
Logo a seguir, no ano de 1972 ou 73, não tenho certeza, foram inaugurados os cinemas Ritz e Astor, que ficavam rua Visconde Suassuna, na esquina da av. Cruz Cabugá, onde hoje funciona o Ministério Público de Pernambuco.
Falarei agora dos cinemas de bairros, ou como também eram conhecidos, os “cinemas de arrabalde”, o que significava que eles ficavam fora da região central, ou seja, em localidades mais afastadas do centro da cidade. Vou iniciar pelo bairro de Afogados, que era, depois de Olinda, o local aonde eu mais frequentava por ser onde morava o meu primo Jomar, companheiro de muitas sessões de cinema.
Afogados
Em Afogados havia 3 cinemas: o Eldorado, o Central e o Capricho, que posteriormente, foi transformado no Pathé.
O primeiro localizado no Largo da Paz, s/n, fundado em 1937.
O segundo, localizado na rua da Paz, 350, era o único cinema de arrabalde com poltronas acolchoadas e ar condicionado. Ficava exatamente em frente ao cine Eldorado. Tinha também paredes de vidro, a exemplo do São Luiz, por onde se podia ver, do primeiro andar, a rua da Paz e seu movimento. Fundado em 1945, possuía 580 lugares, distribuídos entre o 1º andar e o térreo.
O último ficava na rua São Miguel, s/n, fundado em 1952 e, em 1957 transformado no Cine Pathé.
Em seguida vou falar dos cinemas de Casa Amarela, que passei a frequentar com regularidade após a transformação do Cine Coliseu num Cinema de Arte permanente.
Casa Amarela
Casa Amarela possuía 4 cinemas: o Cine Casa Amarela (Cacau), Rivoli, Coliseu e Albatroz.
O primeiro não cheguei a conhecer.
O segundo ficava na Estrada do Arraial, 3923.
O terceiro ficava também na Estrada do Arraial, sendo no número 2563.
E o Albatroz, fundado em 1958, localizava-se na rua Pe. Lemos, 371 com capacidade para 940 pessoas.
Destes, vou falar mais detalhadamente apenas do Cinema Coliseu, que na década e 60 foi transformado em um cinema de arte permanente. Foi uma grande conquista para Recife. Só o Rio de Janeiro e, talvez São Paulo, tivessem esse privilégio. E tínhamos, dois filmes por semana, a exemplo da programação dos cinemas do centro. Um lançado no domingo e o outro na quarta. Nas primeiras semanas, eram oferecidos sorvetes e refrigerantes para os frequentadores do cinema, gratuitamente. Era também oferecido um guia impresso com toda a programação do mês, onde, além dos títulos e ficha técnica, havia também um breve resumo do enredo. Tenho ainda, e já publiquei no blog Verdades de um Ser, alguns destes folhetos do passado.
Havia também diversos festivais, nos quais era exibido apenas um filme por dia ao longo de toda a semana. Foram muitos os festivais oferecidos. O Festival do Jovem Cinema Alemão, o Festival do Cinema Japonês, e também festivais de alguns diretores como Godard, e Richard Lester.
Ia muito também no bairro de Campo Grande, pois era onde minha avó materna morava. Vamos então falar um pouco, sobre os cinemas que lá conheci.
Campo Grande
Em Campo Grande havia 3 cinemas: o Vera Cruz, o Éden e, o pouco conhecido, Allan Kardec que se localizava no colégio de mesmo nome em frente do atual Centro de Convenções de Olinda.
O cine Vera Cruz localizava-se na rua Gonçalves Dias, 65, antigo terminal de um ônibus da linha de Campo Grande que havia no passado.
O cine Éden localizava-se na Estada de Belém, 1177 fundado em 1928. Hoje no local funciona um armazém de construção.
O cine Allan Kardec tinha uma programação especial. Lá só passavam filmes de arte. Era como um cineclube. Foi lá que assisti a filmes maravilhosos como O processo, que posteriormente assisti novamente no Cinema de Arte.
Também fui a alguns cinemas no bairro de Água Fria. Vamos então falar sobre eles.
Água Fria
Em Água Fria havia 2 cinemas: o Império e o Olímpia.
O cine Império localizava-se no Largo de Água Fria, s/n e foi fundado em 1936. Lá vi filmes como As aventuras de Tom Jones.
O cine Olimpia ficava localizado na av. Beberibe, 1501 e foi fundado em 1956.
Areias
No bairro de Areias havia o cine Guararapes, localizado na av. José Rufino, 1190. Foi fundado em 1950. Cheguei a frequentá-lo uma ou duas vezes.
Encruzilhada
Espinheirense – fundado em 1915, localizava-se na av. João de Barros, 1820 e, foi lá onde assisti ao filme Por um punhado de dólares em setembro de 1977.
Casa Forte
Em Casa Forte já houve o cine Luan, que eu não cheguei a conhecer. Através de pesquisa descobri que o mesmo localizava-se na Praça de Casa Forte, s/n e foi fundado em 1957.
Atualmente, existe o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, localizado no Museu do Homem do NE na av. 17 de agosto, 2187. Trata-se de um cinema muito bom, onde só passam filmes de arte. Já escrevi no blog Verdades de um Ser um artigo sobre ele. Para lê-lo, basta clicar aqui.
Cordeiro
No Cordeiro existia o Cine Cordeiro, localizado na av. Caxangá, 1211 e fundado em 1940.
Derby
No Derby existe o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, onde já assisti a muitos filmes maravilhosos.
Agora, vou falar dos cinemas da cidade onde nasci e morei durante quase toda minha vida - Olinda. Apesar de ser outra cidade, é quase como se fosse um bairro de Recife pois fica a apenas 7km do centro da capital.
Cidade de Olinda
Olinda tinha dois cinemas muito frequentados, especialmente nas matinées dos domingos. O Cine Olinda e Cine Duarte Coelho.
O cine Olinda localizava-se na Praça do Carmo, s/n, onde hoje ainda existe abandonado o prédio. Nele eram exibidos antes do filme principal, nas matinées os famosos seriados de Flash Gorden, Tarzan, Roy Rogers e outros. Foi lá que assisti a um filme que há muito tempo tento encontrar uma cópia para rever: A moderna Mata Hari. Também assisti lá Gunga Din, Crescei e multiplicai-vos e A face oculta. O cine Olinda foi fechado entre os anos de 1966 e 1967. Não me recordo bem. Já houve diversas tentativas de reabri-lo sem sucesso.
O cine Duarte Coelho localizava-se na praça Cel. João Lapa, s/n, no Varadouro. Fundado em 1942 e fechado desde 1980, foi palco de muitas sessões importantes na minha vida tais como Quando setembro vier, Davi e Golias, Pepe e muitos outros quando tinha cerca de 12 a 14 anos. Era comum reunirmos uma turma de 4 ou 5 vizinhos e irmos até lá para assistir ao filme que estivesse sendo exibido nas tardes de domingo. Foi lá que assisti a um dos filmes mais belos e que mais me emocionaram na vida. Ainda hoje guardo uma das frases do filme com carinho. O filme foi Eu amo, tu amas, um documentário sobre o amor. Há uma cena no filme em que é mostrado um banco onde estão sentados um jovem casal aos beijos, e um velho solitário. O locutor então diz: “A milhões e milhões de anos-luz de distância, estão a solidão que precisa de amor, e o amor que precisa de solidão.” Esta frase me marcou muito.
Este texto não está completo. Se você conheceu algum outro cinema em Recife que não está aqui mencionado, deixe seu depoimento nos comentários. Eu lhe agradeço.
Na minha adolescência, cinema era uma das mais caras diversões. E havia nas telonas, uma verdadeira magia. Quantos cinemas cheguei a conhecer! Era uma festa. Entrar no cinema era mágico. Chegava quase sempre acompanhado. Quer de colegas de rua, ou de amigos de jornadas, de irmãos ou de meus pais (na infância), ou de alguém, que de cinema também gostasse.
Algumas vezes também, entrava sozinho, e lá permanecia, para assistir ao filme solitário. O importante mesmo era a magia do cinema.
De todos os que conheci, o cinema São Luiz foi, e continua sendo, o mais luxuoso, o mais requintado, o de maior glamour. Era tanto o glamour que, para ter direito a entrar no cinema, até final da década de 50 do século passado, era obrigatório o uso de paletó e gravata. E mulheres, preferencialmente, usavam vestido longo. Ir ao cinema São Luiz era como ir assistir a uma ópera. Quantas vezes não aconteciam as famosas Sessões da Meia Noite, onde ocorriam pré-estreias ?
Foi lá onde assisti à filmes famosos como A noviça rebelde, a trilogia Sissi, com a encantadora Romy Schneider, A conquista do oeste,
Foi lá também, que funcionou durante algum tempo o famoso e saudoso Cinema de Arte, no qual, aos sábados às 10h da manhã, aconteciam sessões com filmes de arte, não mais exibidos nos circuitos comerciais, ou mesmo inéditos, como o magnífico Sempre aos Domingos, Melhor Filme da Minha Vida, e muitos outros.
Foi lá onde assisti pela primeira vez na vida a um filme com censura de 18 anos. Eu tinha 14 mas, utilizando de uma carteira falsa, consegui entrar no cinema, acompanhado do meu costumeiro companheiro de jornada, meu primo Jomar. Foi uma emoção inigualável que, ainda hoje me recordo. O filme foi Charada, com Cary Grant e Audrey Hepburn, direção de Blake Edwards e com música de Henry Mancini.
Conheci dois outros cinemas com o mesmo nome – São Luiz. Um em Fortaleza, Ceará, e o outro no Rio de Janeiro, no Largo do Machado. Mas, nenhum dos dois se comparava nem de longe, ao cinema do Recife que, ainda hoje, guarda sua pompa para quem quiser conferir.
Um pouco inferior ao São Luiz, havia o cinema Moderno, localizado na Praça Joaquim Nabuco, onde hoje funciona uma loja de eletrodomésticos. O Moderno tinha também poltronas acolchoadas, e em uma coisa era melhor que o São Luiz – na plateia do primeiro andar, a primeira fila, que era o meu lugar preferido, à frente ficava um parapeito da altura da cintura, o que permitia que se visse a tela sem esforço. E a grande vantagem é que ninguém sentaria na sua frente para empatar a visão. No cinema São Luiz, essa fila dava para um parapeito mais alto e, mesmo para mim que já era alto, para poder enxergar a tela tinha que fazer algum esforço, o que terminava por me fazer sentar na segunda ou terceira fila. E foi lá, no cinema Moderno, que assisti a filmes históricos como, por exemplo, Zorba, o grego, com música de Mikis Theodorakis. Também os filmes de James Bond.
Os outros dois cinemas do centro eram o Art-Palácio e o Trianon. O primeiro localizava-se na rua da Palma e o outro na av. Guararapes, em frente ao prédio dos Correios. Apesar de também serem com poltronas acolchoadas, não tinham o glamour dos dois anteriormente mencionados. Mas foi lá nesses dois cinemas, especialmente o Trianon, onde assisti a ótimos filmes.
Fora do circuito central e, considerados “cinemas de arrabalde”, o que significava, cinemas de bairros, havia também, no centro, mais 5 cinemas – o Ideal, o Glória, o Boa Vista, o do Parque e o Cinema AIP.
O Ideal ficava na Praça do Terço, 61 ou na rua Vidal de Negreiros. Durante algum tempo, a exemplo do que ocorria no cine Glória, apresentava programa duplo, no qual com um só ingresso, o espectador tinha direito de assistir a dois filmes. Lá eu assisti a grandes filmes como Malamondo, Os cafajestes, Verão violento e outros.
O cine Glória fica na praça do Mercado, na rua Direita, (ainda em funcionamento). Lá eu vi também grandes filmes.
O cine Boa Vista ficava na praça Chora Menino, na Boa Vista. Embora na região central do Recife, era considerado cinema de arrabalde.
O cinema do Parque ficava localizado no Teatro do Parque que ainda hoje funciona na rua do Hospício, próximo da rua da Imperatriz.
O Cinema AIP era um cinema onde eram exibidos filmes de arte e funcionava todos os dias em sessões contínuas, na av. Dantas Barreto, no 13º andar do prédio da AIP. Às segundas feiras, à noite funcionava o Cine Clube Projeção 16, a cargo da direção do jornalista e crítico de cinema Ivan Soares. Lá eu vi muitos filmes famosos e raros como As três faces de Eva, por exemplo. Era distribuído aos espectadores, uma folha de papel com a ficha técnica do filme e um resumo de seu enredo. Ao final da folha, havia também uma crítica de algum expert sobre aquele filme.
Posterioremente, já na década e 70, foram inaugurados mais três cinemas no centro do Recife. Primeiro veio o Veneza, em 1971, na rua do Hospício, em frente às Lojas Americanas, que foi inaugurado com o filme Aeroporto, com som especial. O cinema era muito luxuoso, mas não se comparava ao cinema São Luiz, que entre outros luxos, tinha o espetáculo dos dois vasos de flores coloridas em cada lado da tela, que eram acesos durante alguns segundos, antes do início das sessões, sempre após as 3 badaladas que antecediam o apagar das luzes.
Logo em seguida era apresentado o jornal. Sim, havia em todas as sessões um jornal de atualidades, conhecido como o Jornal da Atlântida. Em seguida vinham os thrillers dos próximos filmes e finalmente iniciava a projeção do filme propriamente dito da programação.
Logo a seguir, no ano de 1972 ou 73, não tenho certeza, foram inaugurados os cinemas Ritz e Astor, que ficavam rua Visconde Suassuna, na esquina da av. Cruz Cabugá, onde hoje funciona o Ministério Público de Pernambuco.
Falarei agora dos cinemas de bairros, ou como também eram conhecidos, os “cinemas de arrabalde”, o que significava que eles ficavam fora da região central, ou seja, em localidades mais afastadas do centro da cidade. Vou iniciar pelo bairro de Afogados, que era, depois de Olinda, o local aonde eu mais frequentava por ser onde morava o meu primo Jomar, companheiro de muitas sessões de cinema.
Afogados
Em Afogados havia 3 cinemas: o Eldorado, o Central e o Capricho, que posteriormente, foi transformado no Pathé.
O primeiro localizado no Largo da Paz, s/n, fundado em 1937.
O segundo, localizado na rua da Paz, 350, era o único cinema de arrabalde com poltronas acolchoadas e ar condicionado. Ficava exatamente em frente ao cine Eldorado. Tinha também paredes de vidro, a exemplo do São Luiz, por onde se podia ver, do primeiro andar, a rua da Paz e seu movimento. Fundado em 1945, possuía 580 lugares, distribuídos entre o 1º andar e o térreo.
O último ficava na rua São Miguel, s/n, fundado em 1952 e, em 1957 transformado no Cine Pathé.
Em seguida vou falar dos cinemas de Casa Amarela, que passei a frequentar com regularidade após a transformação do Cine Coliseu num Cinema de Arte permanente.
Casa Amarela
Casa Amarela possuía 4 cinemas: o Cine Casa Amarela (Cacau), Rivoli, Coliseu e Albatroz.
O primeiro não cheguei a conhecer.
O segundo ficava na Estrada do Arraial, 3923.
O terceiro ficava também na Estrada do Arraial, sendo no número 2563.
E o Albatroz, fundado em 1958, localizava-se na rua Pe. Lemos, 371 com capacidade para 940 pessoas.
Destes, vou falar mais detalhadamente apenas do Cinema Coliseu, que na década e 60 foi transformado em um cinema de arte permanente. Foi uma grande conquista para Recife. Só o Rio de Janeiro e, talvez São Paulo, tivessem esse privilégio. E tínhamos, dois filmes por semana, a exemplo da programação dos cinemas do centro. Um lançado no domingo e o outro na quarta. Nas primeiras semanas, eram oferecidos sorvetes e refrigerantes para os frequentadores do cinema, gratuitamente. Era também oferecido um guia impresso com toda a programação do mês, onde, além dos títulos e ficha técnica, havia também um breve resumo do enredo. Tenho ainda, e já publiquei no blog Verdades de um Ser, alguns destes folhetos do passado.
Havia também diversos festivais, nos quais era exibido apenas um filme por dia ao longo de toda a semana. Foram muitos os festivais oferecidos. O Festival do Jovem Cinema Alemão, o Festival do Cinema Japonês, e também festivais de alguns diretores como Godard, e Richard Lester.
Ia muito também no bairro de Campo Grande, pois era onde minha avó materna morava. Vamos então falar um pouco, sobre os cinemas que lá conheci.
Campo Grande
Em Campo Grande havia 3 cinemas: o Vera Cruz, o Éden e, o pouco conhecido, Allan Kardec que se localizava no colégio de mesmo nome em frente do atual Centro de Convenções de Olinda.
O cine Vera Cruz localizava-se na rua Gonçalves Dias, 65, antigo terminal de um ônibus da linha de Campo Grande que havia no passado.
O cine Éden localizava-se na Estada de Belém, 1177 fundado em 1928. Hoje no local funciona um armazém de construção.
O cine Allan Kardec tinha uma programação especial. Lá só passavam filmes de arte. Era como um cineclube. Foi lá que assisti a filmes maravilhosos como O processo, que posteriormente assisti novamente no Cinema de Arte.
Também fui a alguns cinemas no bairro de Água Fria. Vamos então falar sobre eles.
Água Fria
Em Água Fria havia 2 cinemas: o Império e o Olímpia.
O cine Império localizava-se no Largo de Água Fria, s/n e foi fundado em 1936. Lá vi filmes como As aventuras de Tom Jones.
O cine Olimpia ficava localizado na av. Beberibe, 1501 e foi fundado em 1956.
Areias
No bairro de Areias havia o cine Guararapes, localizado na av. José Rufino, 1190. Foi fundado em 1950. Cheguei a frequentá-lo uma ou duas vezes.
Encruzilhada
Espinheirense – fundado em 1915, localizava-se na av. João de Barros, 1820 e, foi lá onde assisti ao filme Por um punhado de dólares em setembro de 1977.
Casa Forte
Em Casa Forte já houve o cine Luan, que eu não cheguei a conhecer. Através de pesquisa descobri que o mesmo localizava-se na Praça de Casa Forte, s/n e foi fundado em 1957.
Atualmente, existe o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, localizado no Museu do Homem do NE na av. 17 de agosto, 2187. Trata-se de um cinema muito bom, onde só passam filmes de arte. Já escrevi no blog Verdades de um Ser um artigo sobre ele. Para lê-lo, basta clicar aqui.
Cordeiro
No Cordeiro existia o Cine Cordeiro, localizado na av. Caxangá, 1211 e fundado em 1940.
Derby
No Derby existe o Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, onde já assisti a muitos filmes maravilhosos.
Agora, vou falar dos cinemas da cidade onde nasci e morei durante quase toda minha vida - Olinda. Apesar de ser outra cidade, é quase como se fosse um bairro de Recife pois fica a apenas 7km do centro da capital.
Cidade de Olinda
Olinda tinha dois cinemas muito frequentados, especialmente nas matinées dos domingos. O Cine Olinda e Cine Duarte Coelho.
O cine Olinda localizava-se na Praça do Carmo, s/n, onde hoje ainda existe abandonado o prédio. Nele eram exibidos antes do filme principal, nas matinées os famosos seriados de Flash Gorden, Tarzan, Roy Rogers e outros. Foi lá que assisti a um filme que há muito tempo tento encontrar uma cópia para rever: A moderna Mata Hari. Também assisti lá Gunga Din, Crescei e multiplicai-vos e A face oculta. O cine Olinda foi fechado entre os anos de 1966 e 1967. Não me recordo bem. Já houve diversas tentativas de reabri-lo sem sucesso.
O cine Duarte Coelho localizava-se na praça Cel. João Lapa, s/n, no Varadouro. Fundado em 1942 e fechado desde 1980, foi palco de muitas sessões importantes na minha vida tais como Quando setembro vier, Davi e Golias, Pepe e muitos outros quando tinha cerca de 12 a 14 anos. Era comum reunirmos uma turma de 4 ou 5 vizinhos e irmos até lá para assistir ao filme que estivesse sendo exibido nas tardes de domingo. Foi lá que assisti a um dos filmes mais belos e que mais me emocionaram na vida. Ainda hoje guardo uma das frases do filme com carinho. O filme foi Eu amo, tu amas, um documentário sobre o amor. Há uma cena no filme em que é mostrado um banco onde estão sentados um jovem casal aos beijos, e um velho solitário. O locutor então diz: “A milhões e milhões de anos-luz de distância, estão a solidão que precisa de amor, e o amor que precisa de solidão.” Esta frase me marcou muito.
Este texto não está completo. Se você conheceu algum outro cinema em Recife que não está aqui mencionado, deixe seu depoimento nos comentários. Eu lhe agradeço.