NAMORADAS
Há certos fatos incomuns que merecem registro. Volta e meia, a gente tem de fazer um balanço de emoções e hoje me deu na veneta de pensar que sempre tive sorte com namoradas, mesmo nas relações mais efêmeras ou informais, digamos assim. É uma espécie de celebração e agradecimento à conspiração favorável do universo. Namoradas são, pelo menos, medalhas que a gente ostenta no peito: respeitosamente e com orgulho. Bem, este não é balanço de exercício findo. Está tudo ótimo e, ademais, não tenho planos de morrer. Trata-se somente de crônica que pediu passagem. Todas sempre me acrescentaram muito e me fizeram feliz nos adequados momentos, mais curtos ou mais longos. Não há mulher com quem tenha me relacionado e que cultive recordação menos positiva, mesmo quando recebi cartão vermelho. Relações costumam ser transitórias, notadamente na modernidade, e o término de vínculo tornou-se natural, já que a vida é dinâmica e o planeta não pára de dar voltas em torno do sol. Obviamente, umas foram e são, por isto ou por aquilo, mais significativas. Não comparo ninguém, seria injusto, mas não posso deixar de assinalar diferenças. Normal. Tanto quanto saiba, nenhuma delas deixou de ser amiga. Aqui mesmo no FACEBOOK tenho algumas, o que me deixa assaz contente. Não tive, em verdade, méritos especiais, apenas bastante sorte neste quesito, que vale mais do que ouro puro. Com certeza, não correspondi a inúmeras expectativas, mas sempre respeitei atitudes e decisões. É aquela coisa, fui bom aluno, mas algumas vezes tirei notas baixas. Quanto a sentimentos, existe aí um campo infinito de acidentes da nossa peculiar geografia anímica. Possivelmente, tenha sido contemplado em nível superior a merecimento pessoal, mas esforço eu fiz, tanto quanto cometi erros. C’est la vie. As pessoas se desentendem eventualmente, brigam, mas depois se compreendem e se abraçam. Estamos todos no mesmo barco, afinal. Não me interessa realmente ser simpático, mas valorizo até as que não me deram muita bola: elas preencheram uma fantasia, uma carência, um pedaço de tempo ocioso. Agradeço até Brigitte Bardot e a outras tantas importantes miragens estéticas, que pretendo cultivar até o último suspiro. Sobretudo no verão, repetem-se notícias de que o marido argentino esqueceu a mulher num posto de gasolina ou num restaurante de beira de estrada, aqui no sul. Deve acontecer o mesmo com brasileiros que gozam suas férias por lá ou no Uruguai. Poder do inconsciente? Famílias maiores esquecem até filhos. Nunca li que esqueceram a sogra, talvez porque não a levem.