Pessoas diversificadas
Sou jurista, escritora, poeta, pintora e musicista, não necessariamente nessa ordem... risos. Isso quase me causou problemas, algumas vezes.
Dos 19 aos 21 anos de idade, por estímulo "forçado" pelo meu querido papai, ingressei no Curso de Engenharia Civil da Universidade Nuno Lisboa, no Rio de Janeiro, mas, não levei os estudos ao final, por absoluta falta de afinidade com a área das Ciências Exatas. Por outro lado, sempre fui artísticamente feliz: desenhava e pintava, como autodidata, e, aos 39 anos, optei por estudar no Parque Lage. Após 4 anos de muita dedicação, cheguei ao Núcleo de Aprofundamento em Pintura, lugar ocupado anualmente por 8 artistas cuidadosamente destacados. Tive a honra de ser uma das escolhidas em 1994. Nos quatro anos anteriores estudara desenho, modelo vivo, pintura, gravura e escultura. Ainda que inexperiente, escolhera os professores mais rigorosos: Charles Whatson, Gianguido Bonfanti, Katie Vanschepenberg, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Orlando Mollica e Milton Machado. De tudo o que fiz, destaquei-me no desenho e na pintura. Mas, as demais atividades não eram estanques. Tudo conversava entre si. Havia uma Sílvia Mota presente em cada obra - nas quais sensualidade e força também se "comunicavam" com os meus poemas. Desde então, alimento a consciência de que possuo uma linguagem própria (não um estilo, como forma de aprisionamento), independente dos caminhos por onde enveredo. Isso é imprescindível para o meu desenvolvimento artístico e intelectual.
Por coincidência (?) armada pelo destino, também em 1994, aos 43 anos de idade, voltei aos bancos da Faculdade de Direito, cuja matrícula trancara, 20 anos atrás, por motivos alheios à minha vontade. Era a primeira vez que me dedicava com afinco a situações tão diferentes entre si.
Terminei a Faculdade de Direito e, aos 46 anos de idade, submeti-me a um concurso público para ingresso no Mestrado em Direito na UERJ. Bom dizer, que além do diploma de Bacharel em Direito, o meu curriculum exibia um conteúdo estritamente artístico. Realizadas as provas de Direito, convocaram-me para a entrevista final. Compunham a Banca Examinadora os Professores Doutores em Direito: Ricardo Lobo Torres, Vicente de Paulo Barretto, Carmem Beatriz Tiburcio e Heloísa Helena Gomes Barboza.
De pronto, a Professora Doutora Carmem Tiburcio exarou a primeira pergunta: "Sabemos que existem pessoas polivalentes e que são bem sucedidas. Por esse motivo, ao observarmos o seu curriculum, uma pergunta nos provoca: Como você pretende conciliar Artes e Direito?" Tranquilamente, expliquei-lhes que ninguém me dissera se deveria tocar o meu acordeon, pintar os meus quadros ou escrever os meus poemas. Simplesmente, nascera assim. Aquilo tudo era EU e não poderia/não pretendia me desvencilhar de nada. Além do que, respondi inocentemente: "Praticar o Direito também é uma Arte, mais complexa para mim, mas é. Complexa, porque as Belas Artes se encontram dentro de mim, talvez por tendências genéticas, sendo-me necessário apenas evidenciá-las; enquanto a paixão pelo Direito se perfaz através de muito estudo - processo inverso, de fora para dentro. Isso 'rouba-me' mais tempo..." Fui muito sincera ao expor que, normalmente, não conseguia vivenciar, com intensidade, tudo de uma só vez. Sempre, um dos meus dons, evidenciava-se mais do que o outro, a depender da época vivida.
Por uma fração de segundos, os professores mantiveram-se calados, talvez incomodados com aquela resposta tão singela. Então, sem ao menos antever os resultados do meu gesto, coloquei sobre a mesa as 508 páginas da minha Monografia de Final de Curso (da graduação), denominada: "Da Bioética ao Biodireito", que se encontrava sobre as minhas pernas e iniciei um apaixonado discurso sobre o tema. Quatro pares de olhos fixaram-se inquietos naquele volumoso acúmulo de papel A4: "Essa é a sua Monografia?" Respondi que sim e imediatamente o resultado da minha pesquisa passou de mão em mão. Após inúmeras perguntas relacionadas ao meu trabalho científico, saí daquela temida sala aprovada. Soube depois, que a primeira pergunta fora realizada para "testar", logo de início, o alcance da minha nova ambição. Meses depois, em pleno curso, soube que somente chegara à entrevista, porque obtivera o grau 10 (dez) em todas as provas de Direito, vitória somente alcançada por mais dois candidatos, além de mim. Ainda que feliz e realizada, percebi o cuidado (ou preconceito?) estabelecido contra o artista que pretendia enveredar pela vida acadêmica.
Durante o curso de Mestrado, estudei com ilustres Professores, Doutores em Direito, entre esses: Vicente de Paulo Barretto (meu orientador na Dissertação de Mestrado intitulada: Da Bioética ao Biodireito: a tutela da vida no âmbito do Direito Civil), João Baptista Villela, Jacob Dolinguer, Luiz Fux, José de Oliveira Ascensão, Maria Celina Boudin, Ricardo Lira, entre outros professores que os substituíram em algumas aulas. As atividades foram intensas e difíceis, mas, ao final do curso, outra Sílvia Mota nascera, mais culta e mais segura das suas habilidades intelectuais e artísticas. O meu Curriculum Vitae e Studiorum exibe e exibirá sempre o que fui e o que sou pelas sendas das Artes, da Literatura e das Ciências.
Exponho tudo isso, para afirmar que sou a favor da diversidade. Causa-me "agonia" ouvir algumas pessoas afirmarem com orgulho: "Eu não sei fazer nada mais para além disto!" Coloco-me a pensar: E quando aquilo estiver ultrapassado? Contudo, sou contra a diversidade superficial. Entendo por necessário o aprofundamento em tudo o que se faz. Com relação à minha vida, esse pensamento abrange tanto as pesquisas no campo do Direito, quanto nas Artes: poesia, pintura, música... Hoje, encontram-se em evidência somente a escrita e a pintura, o que não significa dizer que os dons musicais esvaíram-se. Continuam latentes.
Como professora universitária, aprendi ser necessário compreender o melhor de cada um, para uma análise justa. Difícil tarefa, porque desfrutamos, na maioria das vezes, a companhia de pessoas acomodadas a determinadas situações. Sabe-se, ainda, ser bem complicado o convívio com pessoas que primam por oferecer o melhor de si, em primeiro lugar para si mesmas e depois para o mundo. São muito rigorosas.
Inadequado ignorar que pessoas com tarefas diversificadas e cônscias da sua missão - EXISTEM - e o seu trabalho merece respeito e consideração.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 2012
Ampliado em 30 de novembro de 2018
Sou jurista, escritora, poeta, pintora e musicista, não necessariamente nessa ordem... risos. Isso quase me causou problemas, algumas vezes.
Dos 19 aos 21 anos de idade, por estímulo "forçado" pelo meu querido papai, ingressei no Curso de Engenharia Civil da Universidade Nuno Lisboa, no Rio de Janeiro, mas, não levei os estudos ao final, por absoluta falta de afinidade com a área das Ciências Exatas. Por outro lado, sempre fui artísticamente feliz: desenhava e pintava, como autodidata, e, aos 39 anos, optei por estudar no Parque Lage. Após 4 anos de muita dedicação, cheguei ao Núcleo de Aprofundamento em Pintura, lugar ocupado anualmente por 8 artistas cuidadosamente destacados. Tive a honra de ser uma das escolhidas em 1994. Nos quatro anos anteriores estudara desenho, modelo vivo, pintura, gravura e escultura. Ainda que inexperiente, escolhera os professores mais rigorosos: Charles Whatson, Gianguido Bonfanti, Katie Vanschepenberg, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Orlando Mollica e Milton Machado. De tudo o que fiz, destaquei-me no desenho e na pintura. Mas, as demais atividades não eram estanques. Tudo conversava entre si. Havia uma Sílvia Mota presente em cada obra - nas quais sensualidade e força também se "comunicavam" com os meus poemas. Desde então, alimento a consciência de que possuo uma linguagem própria (não um estilo, como forma de aprisionamento), independente dos caminhos por onde enveredo. Isso é imprescindível para o meu desenvolvimento artístico e intelectual.
Por coincidência (?) armada pelo destino, também em 1994, aos 43 anos de idade, voltei aos bancos da Faculdade de Direito, cuja matrícula trancara, 20 anos atrás, por motivos alheios à minha vontade. Era a primeira vez que me dedicava com afinco a situações tão diferentes entre si.
Terminei a Faculdade de Direito e, aos 46 anos de idade, submeti-me a um concurso público para ingresso no Mestrado em Direito na UERJ. Bom dizer, que além do diploma de Bacharel em Direito, o meu curriculum exibia um conteúdo estritamente artístico. Realizadas as provas de Direito, convocaram-me para a entrevista final. Compunham a Banca Examinadora os Professores Doutores em Direito: Ricardo Lobo Torres, Vicente de Paulo Barretto, Carmem Beatriz Tiburcio e Heloísa Helena Gomes Barboza.
De pronto, a Professora Doutora Carmem Tiburcio exarou a primeira pergunta: "Sabemos que existem pessoas polivalentes e que são bem sucedidas. Por esse motivo, ao observarmos o seu curriculum, uma pergunta nos provoca: Como você pretende conciliar Artes e Direito?" Tranquilamente, expliquei-lhes que ninguém me dissera se deveria tocar o meu acordeon, pintar os meus quadros ou escrever os meus poemas. Simplesmente, nascera assim. Aquilo tudo era EU e não poderia/não pretendia me desvencilhar de nada. Além do que, respondi inocentemente: "Praticar o Direito também é uma Arte, mais complexa para mim, mas é. Complexa, porque as Belas Artes se encontram dentro de mim, talvez por tendências genéticas, sendo-me necessário apenas evidenciá-las; enquanto a paixão pelo Direito se perfaz através de muito estudo - processo inverso, de fora para dentro. Isso 'rouba-me' mais tempo..." Fui muito sincera ao expor que, normalmente, não conseguia vivenciar, com intensidade, tudo de uma só vez. Sempre, um dos meus dons, evidenciava-se mais do que o outro, a depender da época vivida.
Por uma fração de segundos, os professores mantiveram-se calados, talvez incomodados com aquela resposta tão singela. Então, sem ao menos antever os resultados do meu gesto, coloquei sobre a mesa as 508 páginas da minha Monografia de Final de Curso (da graduação), denominada: "Da Bioética ao Biodireito", que se encontrava sobre as minhas pernas e iniciei um apaixonado discurso sobre o tema. Quatro pares de olhos fixaram-se inquietos naquele volumoso acúmulo de papel A4: "Essa é a sua Monografia?" Respondi que sim e imediatamente o resultado da minha pesquisa passou de mão em mão. Após inúmeras perguntas relacionadas ao meu trabalho científico, saí daquela temida sala aprovada. Soube depois, que a primeira pergunta fora realizada para "testar", logo de início, o alcance da minha nova ambição. Meses depois, em pleno curso, soube que somente chegara à entrevista, porque obtivera o grau 10 (dez) em todas as provas de Direito, vitória somente alcançada por mais dois candidatos, além de mim. Ainda que feliz e realizada, percebi o cuidado (ou preconceito?) estabelecido contra o artista que pretendia enveredar pela vida acadêmica.
Durante o curso de Mestrado, estudei com ilustres Professores, Doutores em Direito, entre esses: Vicente de Paulo Barretto (meu orientador na Dissertação de Mestrado intitulada: Da Bioética ao Biodireito: a tutela da vida no âmbito do Direito Civil), João Baptista Villela, Jacob Dolinguer, Luiz Fux, José de Oliveira Ascensão, Maria Celina Boudin, Ricardo Lira, entre outros professores que os substituíram em algumas aulas. As atividades foram intensas e difíceis, mas, ao final do curso, outra Sílvia Mota nascera, mais culta e mais segura das suas habilidades intelectuais e artísticas. O meu Curriculum Vitae e Studiorum exibe e exibirá sempre o que fui e o que sou pelas sendas das Artes, da Literatura e das Ciências.
Exponho tudo isso, para afirmar que sou a favor da diversidade. Causa-me "agonia" ouvir algumas pessoas afirmarem com orgulho: "Eu não sei fazer nada mais para além disto!" Coloco-me a pensar: E quando aquilo estiver ultrapassado? Contudo, sou contra a diversidade superficial. Entendo por necessário o aprofundamento em tudo o que se faz. Com relação à minha vida, esse pensamento abrange tanto as pesquisas no campo do Direito, quanto nas Artes: poesia, pintura, música... Hoje, encontram-se em evidência somente a escrita e a pintura, o que não significa dizer que os dons musicais esvaíram-se. Continuam latentes.
Como professora universitária, aprendi ser necessário compreender o melhor de cada um, para uma análise justa. Difícil tarefa, porque desfrutamos, na maioria das vezes, a companhia de pessoas acomodadas a determinadas situações. Sabe-se, ainda, ser bem complicado o convívio com pessoas que primam por oferecer o melhor de si, em primeiro lugar para si mesmas e depois para o mundo. São muito rigorosas.
Inadequado ignorar que pessoas com tarefas diversificadas e cônscias da sua missão - EXISTEM - e o seu trabalho merece respeito e consideração.
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 2012
Ampliado em 30 de novembro de 2018