Aceitação
Gostamos sempre de dizer aos outros o que fazer. É quase unanime que uma centena de conversas neste momento comecem com "eu acho que você devia...". Pronto, instala-se no ambiente um receituário, às vezes individual outras coletivo. Sei que há boas intenções nestas tentativas. Sei que pelo menos uma ou duas delas podem sim conter a fórmula certeira para o que se propõe. Sei que alguns de nós tem esperança de que aquela voz externa tenha a resposta precisa, certeira e arrebatadora.
Tanto sei que aceito. Aceito receitas, comentários, conselhos e opiniões. Aceito sonhos, respostas, delírios, piadas e bilhetes mal-criados. Aceito tudo. Como tem escrito na loja do comércio "Aceitamos todos os cartões e cheques para 30 dias".
Não é que aceitar vai doer menos. Não. Aceitar vai fazer você entender que é preciso viver e não se esquivar do que sente. Não busque correr para deixar a dor para trás. Não busque lá fora um dia cheio para não lembrar disso ou daquilo. Simplesmente abrace! Abrace sua dor. Como uma criança carente, ela quer carinho, quer atenção. Não deixe que ela provoque. Antes que o faça, dê amor. Deite-a no colo. Olhe pra ela, dilua algumas lágrimas, alguns suspiros, algumas falas. Feche os olhos e a ajude a dormir. Depois de um tempo, levemente se levante, sem barulho fazer. Faça silêncio, é bom. Respire lentamente e saia. Lembre-se que ela vai estar ali na volta, ou pode estar te acompanhando. Ela geralmente é imprevisível. Mas se for com você, dê a mão. Leve-a no seu passeio. Mostre o mundo em volta. Sorria e comprimente as pessoas. Elas vão ver o quanto você é uma boa companhia. Com o tempo a dor vai entender, ela demora um pouco, tem dias, mas ela entende, no seu tempo. Eu sei que quanto mais você a manter por perto para cuidar, mais ela vai brilhar. Seu brilho quanto mais intenso for, fará ela passar, crescer e adulta virar. E quando adulta ela for vai te ajudar. Assim como você fez quando ela era uma criança que só queria atenção.
Depois que uma cresce, as outras dores que virão, terão você e uma auxiliar, companheira, mas amiga. Com toda certeza, ela vai lembrar o quanto você foi importante, não fugindo e sim acolhendo, amando. Aceitar é isso, amar e deixar crescer e ver partir. E saber esperar quando for preciso que ela volte.
Eu aceito a minha dor. Ela está aqui no meu colo enquanto escrevo. Deixo-a dormir... logo logo ela cresce.