*Texto escrito em: 24 de dezembro de 2009*
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A solidão dos poetas no Site da Magriça
 
Escolhi especular sobre a SOLIDÃO em alguns autores do Site da Magriça, mais próximos do meu dia a dia (ou da minha madrugada a madrugada) e descobri o misterioso encantamento dessa palavra na vida dos queridos poetas, até o dia de hoje.
 
Lida e entendida, de coração para coração, a solidão do poeta, por vezes, dói muito... Mas, quando ao coração imiscui-se um pouco da razão, no sentido de entender o ser-poeta (como se fosse isso possível aos simples mortais!) é preciso compreender que a decantada solidão "flutua", visível ou invisível, entre quase todos os poemas, seja quando represente o amor, o ódio, a tristeza, a alegria, a felicidade ou a infelicidade e tantos outros sentimentos, que nada mais se constituem do que situações da vida, vividas somente pelos vivos – porque se encontram vivos! E, o ser sensível que habita a essência do poeta, "resolve-se" através dos próprios versos, buscando soluções às inquirições a respeito do "Por quê viver? Por quê morrer?"; “Para quem viver?” Por quem morrer?”, ou, mais exatamente "Como viver? Como morrer?" Sendo assim, a solidão passa a ser amiga benfazeja do poeta, porque direciona seus pensamentos à compreensão de si mesmo.
 
Motivou-me, primeiramente, Zaymon Zarondy que, em 22 de dezembro de 2009, em “Antes do dia terminar” expõe essa preocupação, de forma visceral:
 
“Preciso me conhecer antes de ir embora
Antes da finitude, de partir...”
 
Agustiante parece, ao autor, partir sem a descoberta de si mesmo; pior ainda, omitir-se a essas descobertas!
 
Alguns meses antes, o menino Abraxus, em 23 de julho, oferecera-nos em seu poema “Solidão”, uma das mais belas e poéticas definições sobre o tema, inseridas na minh’alma:
 
“Como gotas
- de saudade -
... que voaram
de meus olhos.
-  Aos milhares -”
 
Em 11 de novembro, numa fase literalmente apaixonada (ao meu olhar de Cupido), o jovem poeta repete o título em outro poema e, nesse sentido, sua solidão deixa de ser só, pois passa a ter um poema companheiro, originado da própria criatividade do autor. Por entre as linhas que permeiam esse poema, a “Solidão” de Abraxus é quase sinônimo de morte:
 
“E que entre o céu e o abismo:
onde é mais negro que a escuridão
e mais eterno que o incerto,
afunde a incerteza da minha triste solidão.”
 
A esse poema Zaymon Zarondy apõe seu comentário, que, por si só, desobriga-me de qualquer explicação: “Não sabemos... se a solidão é vilã ou mocinha, contudo ela nos persegue, nos segue e, aos poetas, em especial [...]”
 
Na bela e querida Kitana, oito poemas exibem no título, a palavra “solidão”.
 
Inicio por sua “Oração da solidão”, ao meu olhar, mais apelo do que oração:
 
“Que seja mentira tudo que penso [...]”
“Que seja mentira tudo que li [...]’
“Que seja um pesadelo tudo que senti!”
 
[...]
 
“Que esta alma vampirica consiga reergue-se
Que a ferida novamente aberta cicatrize mais uma vez
Que a sutura seja feita não só de conversas,
Que se perdem com o raiar do dia que desperta...”
 
O desejo de camuflar o que não deseja ver, ou ler, ou sentir, regenera-se na altivez dos últimos versos, que anseiam pela verdade real.
 
Nesse embalo poético, em 7 de março de 2004, nasce “Solidão é...”, no qual a autora canta o vazio do seu coração e finda por ser a própria solidão morta. É possível chegar a esse extremo? Sim, à eloquência da poeta curvam-se todas as formas de escrever:
 
“Solidão são meus olhos vidrados
Visão que alude ao prisioneiro condenado
A morte sangrenta de uma chacina
No brilho opaco do cemitério da minha vida!”
 
Em 18 de abril de 2004, a dor não arrefecida é tanta, que, diversos poemas escritos todos num só dia, pretendem definir esse tal isolamento da alma. Surge “Solidão é... parte II”,  por onde o termo solidão ainda se associa à morte e tão forte é essa imagem, que destrói a alegria do próprio sorriso:
 
“Solidão é esta sensação inexata
De estar a morrer lentamente
Solidão é estar sempre ausente,
Mesmo que sorrindo constantemente.”
 
Ato imediato, em “Solidão é... parte III”, a palavra confunde-se com o amor e, por sua ausência, Kitana acha que o melhor “É deixar-se morrer... Enterrar!” A aflição, quase indescritível, não se exaure nas linhas desse poema e prossegue a dimanar pela inspiração da poeta, mais uma lágrima brilhante: “Solidão é... Parte IV”,  no qual a solidão se transforma em prisão ao amor ilusão:
 
“É o súbito lançar de uma estrela ao chão!
Na tentativa de tocar-lhe o corpo, seria ilusão?”
 
Alcançado esse ponto, a angústia da menina-poeta deságua pelas vias de “Solidão... Parte V”:
 
“Solidão é o silêncio...
É estar sem você!
É não ver a distância como obstáculo,
Mas sim teu amor que renega meus passos!”
 
Pronto! Ao antever exorcizado o sofrimento, a vida desafia novos caminhos...
 
Ledo engano, porque em 14 de novembro de 2009, o seu vazio “cresce rápido demais”, até tomar a forma de uma “cascata de solidão”. É o que se lê em “Solidão”. E, fico aqui a me perguntar: como entender a profundez do sentimento que originou esses versos? Tantos anos depois e a coerência do sentimento de Kitana expõe o que ocorreu em 1º de agosto de 2004:  nada mais, nada menos, do que uma “cascata de solidão”.
 
Em 17 de dezembro de 2009, a compaixão humanística de Kitana transcende os caminhos da própria dor, para inspirar-se nos dados que lhe são oferecidos pela realidade de uma paciente hospitalar e descreve experiente o “Mergulho da solidão”:
 
“O vazio que emerge da solidão
Umedece o solo seco, que não floresce.
Percebe n’outra margem o nascer da vida
Enquanto ali, a mente adoece.”
 
Quão linda e doce Kitana! De jovem, transforma-se em segundos, na sábia senhora que deixa de viver a própria vida para entender a do próximo. Admirável, nos seus versos, o fato de que a sua solidão não tem raízes nas quimeras, qualidade que a difere da maioria dos demais poetas. Sua solidão é real. Telúrica. Chão! Fico a ensimesmar, aqui com os meus botões: após seu “Mergulho da solidão”, por quais veredas me levará a solidão em Kitana? Aguardo, tão aflita, quanto ansiosa...
 
Em 10 de junho de 2002, Raquel Donegá, poeta no seu esplendor, em “Eu espero a morte sentada”, permanece sem resposta quando pergunta ao leitor:
 
“Pra que essa solidão?
Se quando falo dela há briga
Se o mundo inteiro se intriga
E confunde com depressão?
Essa coisa que não entendo
Que não se completa por nada
Que está pra lá de infiltrada
Nesse meu confuso coração”
 
Seu “confuso coração”, não se faz compreender em decorrência da sensação de sentir um sentimento humano, tantas vezes mal interpretado como “depressão”.  Ao lê-la, acredito que não seja o simples fato de estar só que a incomoda, mas o ser percebida de forma superficial e leviana. Isso sim, a inuma na solidão.
 
Em 26 de outubro de 2008, Raquel expõe de forma corajosa os seus medos, inserindo entre esses o medo da solidão:
 
“Tenho medo de rua escura
e de movimentação
Medo de certas companhias
e também da solidão”
 
Não o valoriza, não lhe oferece destaque especial, mas não o ignora.
 
Em inúmeros poemas, embriaga-se a autora aos versos da tristeza, mas realiza uma façanha, ao transmutar essa tristeza toda em beleza inigualável!
 
Em “Lampejos”, de 19 de março de 2009, o encanto dos seus versos atiça-me os olhos com lágrimas teimosas. É quando Raquel murmura para si mesma, mas, neste ato faz-se a voz de diversos corações:
 
“A solidão, geralmente, não me amaldiçoa
Antes, soa como uma música em minha alma
Música que só ouço em silêncio
E que degusto, enquanto me devora.”
 
Por curioso possa parecer, em Jaime Valente, não encontrei a palavra “solidão” em nenhum título dos seus poemas (será erro do sistema de buscas do site?). Revelo mais: no decorrer dos seus poemas e textos, só detectei o famoso vocábulo uma única vez, em Odes de Viagens 36. Todavia, isso não significa que ignore o tema, pois o faz de forma madura e eloquente, quando a entrevê na desesperança do próximo, ao escrever “Como é triste”:
 
“[...] ai como é triste
a esperança
que morta comporta
o nada fazer;
a espera vã
de aprender a viver!”
 
[...]
 
“E que palavra escrava
vai-nos dizer
que a criança da fome
vai morrer
sem nunca entender
a matança dos sonhos?...”
 
Poema que merece ser lido na sua inteireza expõe, verso a verso, a antecipação da morte daqueles que mataram ou permitiram matar em si, os sonhos.
 
Em Odes de Viagens 50, escreve o autor nas entrelinhas, o que a mim parece se chamar solidão:
 
“Sinto um vazio no estômago
Que não é só da fome...”
 
Se é verdade a atribuição dessas palavras a Sêneca: “Sentir solidão não é estar só, é estar vazio."
 
Em 6 de novembro de 2008, Marcial Salaverry, em “Vamos falar de solidão”, expressa-se a respeito da solidão: “Com certeza, essa é uma palavrinha meio que safada...” Razão possui o autor, pela natureza polimórfica que o termo encerra, o que nos leva, quase sempre, a uma confusão eloquente entre os estados de “solidão” e de “estar só”.
 
Em 30 de outubro de 2009, o autor escreve um poema sob um engraçado título: “Xô solidão”:
 
“Xô solidão,
fazes mal ao coração,
atrapalhas a digestão...”
 
Leio nesse poema a personalidade otimista e feliz do poeta, que se expressa coerentemente em toda a sua obra poética. A ânsia juvenil do poeta, em qualquer fase da sua vida, pela descoberta de si mesmo, aproxima-o dos grandes pensadores do passado e do presente:
 
Dialética
 
“É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
Em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz
Mas acontece que eu sou triste...”
 
Fico por aqui, a reler os poemas dos meus companheiros e a refletir sobre o tema... E, chego à conclusão, de que estar só não significa essencialmente solidão. Solidão gera sofrimento; estar só é escolha. Autossuficiência, que por vezes significa o preço da liberdade. Conviver consigo mesmo é uma aventura inenarrável, em particular, quando se descobre o próprio valor, independentemente de outrem. Afinal, ecoa no ar a velha pergunta: se não consegues conviver contigo mesma, com quem conseguirás, então?

Quando desenvolvemos a capacidade de olhar ao espelho e não inquirir quem se reflete do outro lado, amadurecemos emocionalmente. Alguns necessitam estar a sós para que isso ocorra, outros não. Nada estranho existe em desejar o silêncio da voz interior. Por outro lado, quanta estranheza no "fechar de olhos" para a realidade, somente para não conviver consigo mesma. Uns escolhem a mentira. Eu fico com a verdade, sempre! Por tal motivo, não admito ser traída. Ainda que me cause muita dor, abandono o relacionamento e oro diariamente para que doa TUDO de uma só vez, porque sei o quanto sou forte para recuperar-me. Quanto mais rápido, melhor! Sofro, sofro e sofro! Envergo, envergo... mas não sucumbo! (risos)

Agora, sigo a vida só, mas nunca mergulhada na solidão.
 
Cabo Frio, 24 de dezembro de 2009 – 3h03
*Se algum dado numérico considerar-se errado, a culpa será sempre do sistema de busca do site, nunca falha minha... rs rs rs
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 28/07/2018
Reeditado em 29/07/2018
Código do texto: T6402459
Classificação de conteúdo: seguro
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