GOSTARIA DE SER PRESIDENTE II

Em 26.10.2012, escrevi uma crônica intitulada Gostaria de ser Presidente da República. Manifestei um desejo irrealizável, por muitas e convincentes razões. Tive como propósito demonstrar por que existem tantos pretendentes a tão honrosa posição. Quase todos a querem, objetivando usufruir as benesses do cargo e locupletar-se da riqueza nacional por meios escusos, conforme temos visto, e continuaremos a ver caso não haja uma mudança de consciência política e de caráter de candidatos e eleitores.

Hoje, seis anos depois, volto à escrita para reproduzir aquele texto, com algumas inserções e poucas mudanças, haja vista a continuidade dos fatos. Tudo permanece como “dantes, no quartel de Abrantes”.

Disse eu, na oportunidade:

Gostaria muito de ser presidente. Não um presidente qualquer, dirigente maior de empresa, por mais importante que seja. Também não me apetece o desejo de tornar-me mandatário de organização de pouca expressão econômica. Não me adiantaria a presidência de condomínios residenciais nem de instituições não governamentais.

Gostaria, sim, de ser presidente, mas presidente da República. Talvez, até aceitasse, preliminarmente, ser governador de qualquer unidade federativa do Brasil, onde abundam mordomias, benesses e garantia de um futuro sem dificuldade financeira, angariada ao final do mandato ou por minha perpetuação no cenário político, no mínimo como senador.

No Senado, concorreria novamente ao cargo de governador e, com o passar do tempo, viria a ocupar os palácios do Planalto e da Alvorada, graças ao voto do eleitor despolitizado, incapaz de avaliar a capacidade administrativa e a honradez do postulante ao cargo. E, menos ainda, de observar sua trajetória política, sob a égide da honestidade.

O eleitor brasileiro pouco ou nada cobra de seus governantes. São raras as exceções. Com pouca escolaridade, não sabe distinguir, em política, o certo do errado, o bem do mal, o bom do ruim, o saudável do podre. Alguns, até o sabem, mas, por conveniências escusas, olvidam o que veem e ouvem.

Se alguns eleitores brasileiros conseguem entender o que dizem os jornais, as revistas, as televisões, as rádios, e o que comenta o povo nas ruas, nos bares e até nas igrejas, é por possuírem nível intelectual acima da média. Não são os únicos inteligentes, mas, certamente, compreendem melhor o que se passa no cenário político nacional.

Insisto: ser presidente da República é minha aspiração maior. Durante a campanha eleitoral, seria notícia em toda a mídia. Tornar-me-ia conhecido nacionalmente. De sorriso aberto, mostraria aos eleitores a imagem negativa dos adversários, os seus defeitos, falhas e caráter repreensível. Por outro lado, apresentar-me-ia como a melhor opção, divulgaria minhas imaginárias e convenientes qualidades de profissional competente, de bom administrador, de homem honesto, ao contrário do que realmente sou: um ladravaz, como a maioria dos políticos. De repente, estaria transformado e pronto para ser sufragado pelo voto popular.

Como todo candidato a cargo eletivo, digo: se eleito, implantaria políticas econômicas e sociais que desenvolvessem o Brasil e dessem ao povo melhores condições de vida, saúde adequada, moradia digna, trabalho dignificante, educação superior e segurança pública. Melhor ainda, perseguiria o corrupto até extingui-lo do convívio político e da administração pública. Logo eu, que de tudo sou um pouco, faria isso?

No decorrer deste texto, prometi, caso fosse eleito, combater a corrupção desenfreada, a despeito do que eu mesmo dissera de mim, quanto ao meu caráter restritivo. Todavia, reconheço que não cumpriria tal promessa. Seria, portanto, igual a todo político: aproveitador, nepotista, desonesto e mentiroso. Como resistir às tentações do poder, que corrompe; às benesses, que fascinam; às facilidades, que encantam, e à convivência, que transforma?

Reflita eleitor. O momento é propício. A fragilidade de nossas instituições, motivada por interesses escusos dos que desejam apoderar-se do país, exige uma reflexão sobre “tudo isso que está aí”. Certamente, o amigo já ouviu falar de... Você sabe quem!