A CULPA É DO GOLEIRO E O CRIMINOSO É O MORDOMO

Temos uma forte tendência de fugir às responsabilidades. Por arrogância, comodismo ou falta rudimentar de preparo e de pensamento crítico. No proverbial cinismo humano, o bandido jura inocência, o pecador põe a culpa no diabo e o traidor descarrega no traído. Se detestamos representantes oportunistas e desonestos, por que os elegemos? Geralmente, o malfeitor – o legítimo – não atinge esta condição por um toque de mágica, lá pelo meio do campeonato. Ele tem uma longa história e já deixou muitas pistas antes dos grandes golpes. Portanto – e mesmo assim a gente erra – é preciso tentar descobri-lo antes de consagrá-lo. Se já passava a mão no lanchinho dos colegas de escola, é bom abrir bem o olho, já que, no futuro, poderá fazer a festa em qualquer dos Poderes da República. Temos - praticamente todos - grande dose de culpa por maus políticos, administradores desastrados ou desastrosos, leis inadequadas, juízes que vivem em outro planeta, assim como maus profissionais em qualquer área. Tudo integra a nossa fotografia. Pela omissão, egoísmo, alienação e também por não exigirmos sistematicamente mais educação ao povo. Não adianta fugir para o exterior, pois temos parentes, amigos, bens, interesses e uma profunda raiz histórica por estas bandas. É muito, muito difícil cortar raízes. Ademais, os outros países não têm somente anjinhos, já cometeram e cometem muita barbaridade. Aliás, ao ensejo desta Copa, convém lembrar o descalabro moral da nossa alta cúpula no futebol, que é de dar vergonha a qualquer vivente. E já que surgiu o assunto, temos de ter um pouco mais de tolerância para com a nossa Seleção, que nunca foi “o bicho”. Era favorita só pela camiseta, mas que a maioria aplaudia e apostava nela. Fez o possível, com suas óbvias limitações, e perdeu para a Bélgica, que foi melhor. Ponto final. É um desfecho ruim, mas não adianta, de repente, mudar sentimentos e colocar a gurizada no “paredón”, como se tivesse “nos enganado”. Enganou-se quem quis. Temos de trabalhar e extrair lições de tudo o que ocorreu. Não adianta crucificar, agora, o Neymar, que jogou “descontado”, o Tite ou o João da Silva, antes tão exaltados. Simplifiquemos: a culpa é do goleiro – “segura, Taffarel!” - e o criminoso é sempre o mordomo. Assim, a gente livra o lombo e lança uns quatro ou cinco às feras.