PRETO NO BRANCO
Preto no Branco
“Me deu um branco!
Foi assim que se deu, como se o dicionário de palavras que habita minhas sinapses tivesse tomado uma chuva de alvejante.
E quão negro pode ser o futuro de um branco imprevisto?
Quando um branco pode ser pior do que quando se está prestes a tomar tão importante decisão?
Talvez o branco-misterioso do laço no cabelo da cartomante, quando transcreve de figuras alegres o rumo da alma gêmea?
Quem sabe o branco-cintilante do véu da noiva, na hora de afirmar o compromisso perante o Sacerdote?
Ou então o branco-exausto do cabelo do ancião, que já nem se recorda mais a data de seu Matrimônio?
Não, nada disso tem efeito tão elevado e marca tão profunda e duradoura na vida de alguém.
Nada pode ser tão irreversível quanto o alvo da casca do ovo que se rompe sem pedir perdão.
Estava pálido e suando frio, como um boneco de neve.
E de repente, perdi todos os sentidos.
Vi tudo branco.
Estrelas albinas.
Via-Láctea.
Alguém me acudiu, segurando meu braço pra eu não cair e depois deu-me um belo chacoalhão.
Recobrei-me e respirei fundo buscando oxigênio no insuportável ar rarefeito que me mantia em suspensão, olhando fundo no cândido dos olhos que me encaravam.
E, evidetemente, disse o inevitável…”
“Pai. Diga-me a verdade: foi assim mesmo que tudo aconteceu?”
“Foi, Branco.”