PRETO NO BRANCO

Preto no Branco

“Me deu um branco!

Foi assim que se deu, como se o dicionário de palavras que habita minhas sinapses tivesse tomado uma chuva de alvejante.

E quão negro pode ser o futuro de um branco imprevisto?

Quando um branco pode ser pior do que quando se está prestes a tomar tão importante decisão?

Talvez o branco-misterioso do laço no cabelo da cartomante, quando transcreve de figuras alegres o rumo da alma gêmea?

Quem sabe o branco-cintilante do véu da noiva, na hora de afirmar o compromisso perante o Sacerdote?

Ou então o branco-exausto do cabelo do ancião, que já nem se recorda mais a data de seu Matrimônio?

Não, nada disso tem efeito tão elevado e marca tão profunda e duradoura na vida de alguém.

Nada pode ser tão irreversível quanto o alvo da casca do ovo que se rompe sem pedir perdão.

Estava pálido e suando frio, como um boneco de neve.

E de repente, perdi todos os sentidos.

Vi tudo branco.

Estrelas albinas.

Via-Láctea.

Alguém me acudiu, segurando meu braço pra eu não cair e depois deu-me um belo chacoalhão.

Recobrei-me e respirei fundo buscando oxigênio no insuportável ar rarefeito que me mantia em suspensão, olhando fundo no cândido dos olhos que me encaravam.

E, evidetemente, disse o inevitável…”

“Pai. Diga-me a verdade: foi assim mesmo que tudo aconteceu?”

“Foi, Branco.”

Josadarck
Enviado por Josadarck em 04/07/2018
Reeditado em 27/10/2023
Código do texto: T6381655
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