TRAIRAGEM

Administrar pessoas não é fácil, já estive por muitos anos nas duas pontas. Então, compreendo bem o drama de gestores. Mas tem uma coisa que não dá para aceitar, que é a chamada TRAIRAGEM. Quem já não foi vítima ou esteve na iminência de sê-lo? Você, minha mulher no trabalho, meus irmãos e parentes, vizinhos, amigos, conhecidos e, claro, eu próprio. Estou presentemente a recordar certo caso numa empresa em que prestei serviços profissionais, situação que ocorreu realmente há muitos anos. Meu chefe (quem tem chefe é índio, sempre preferi agir como condutor) me chamou e pediu que desse uma assessoria a determinada coligada, pois estava sem advogado e extremamente necessitada, por algo como dez, quinze dias. Tudo bem, vamos lá, guerra é guerra. Resolvidas as questões mais tormentosas e vencido o prazo, falei aos Diretores da instituição que estava voltando à origem. Então me disseram que desejariam que eu permanecesse e que já haviam acertado com a minha chefia. Agradeci muito a consideração, mas reafirmei que estava retornando. Ademais, eu tinha ficado fora desse novo acerto. Apresentei-me em meu devido posto e informei à chefia que estava de volta. O chefe, cheio de voltas no corpo, disse que já havia se comprometido com a Direção da coligada. Conhecendo bem a figura e com o jeito que muitos de vocês conhecem, fui bem claro: “Vais ter de resolver o teu problema, eu não vou regressar, já cumpri o combinado e estou reiniciando aqui as minhas atividades contratuais, a partir de agora.” E ponto final. A gente tem de tolerar muita coisa no trabalho, faz parte, mas bola nas costas, puxada de tapete, trairagem explícita, nem pensar. Se você tiver fundamento e chutar a canela do traíra, ele se mixa.