POR QUE ACREDITO EM LOBISOMEM?
Não, não vou plagiar a obra do Serafim Machado. Só aproveitar o mote para constatar que certas coisas que a gente fazia ou usava, lugares que freqüentava, parecem hoje de outro planeta ou de livro assombroso de história antiga, quando, na dura verdade, são fatos ainda bastante vivos em nossa memória. Eu acredito em lobisomem por isto. Ir ao Mcdonalds, ao Barranco, dentro de anos poderá ser um vazio qualquer na memória dos mais jovens. Comer um “passaporte para o inferno” na carrocinha do Zé, na esquina do Fedor (Bar do Serafim), Bairro do Bomfa, ou tirar um retrato com a namorada num “lambe-lambe” da Praça XV equivale, para a minha geração, às noitadas no Cassino da Urca no Rio de Janeiro ou no Clube dos Caçadores em Porto Alegre. Falar em American Boate, Dragão Verde, Galeto do Marreta, Sherazade, Bond’eu, Van Gogh, Avião, Spaguettilândia, Mateus ou Rihan é, atualmente, como fazer referência a centros de eventos de taba guarani, no Brasil Cabraliano. Ir para a praia PRÉ-FREE WAY, telefonar para a namorada na Vila Assunção, por intermédio de mesa telefônica da CRT, a quem se pedia para passar a ligação para o 236, pode parecer piada na boca de veterano que usa bermuda de brim e chinelo de dedo. Festas trajando “smoking”, colete, faixa na cintura, gravata borboleta e sapatos pretos de verniz lembram apenas filme antigo, assim como utilizar piteira ou fumar cachimbo em restaurante ou boate. Cartão de visita ou de apresentação, papel carbono, mimeógrafo, mata-borrão, gumex ou glostora no cabelo, disco 45 rotações por minuto, perucas para as mulheres, balsas para atravessar nossos rios, não passam de velhas histórias, fotografias de museu ou páginas de literatura nostálgica. Nada mais. Pois vou dizer claramente: para mim, foi praticamente ontem. Por outro lado, já me acostumei a ver os jovens de terno e tênis, ostentando a “cabeleira Neymar”. Pelo conjunto da obra, meus amigos, acreditar em lobisomem é o de menos.