O ESPLENDOR DA BURRICE

De modo singelo, pode-se obter em dicionário a seguinte definição de inteligência: “1.faculdade de conhecer, compreender e aprender. 2.capacidade de compreender e resolver novos problemas e conflitos e de adaptar-se a novas situações.” Não é muito, mas serve para a presente abordagem. Um gremista assiste a um grande jogo do Internacional, que vence e convence. Se mesmo assim disser, “ex imo corde”, que o time vermelho foi apenas razoável, que o árbitro o favoreceu, que o adversário era muito ruim, jogou desfalcado ou estava “no bolso”, é caso típico de falta de inteligência, salvo se for “flauta”. Fanatismo esportivo, político, religioso, seja lá qual for, denota absoluta ausência de descortino. É claro que não estou cogitando aqui de legítimos e duros embates, que envolvem paixão e ímpeto de convencer. Há momentos e momentos para a passionalidade e o facciosismo, que não têm lugar “em campo neutro”. O mesmo vale quando está em jogo o interesse pessoal. Se pleiteio algo em juízo, por exemplo, que me parece justo e perco a causa mediante argumentos sérios, sólidos e finais, é inconcebível ficar esbravejando e supor uma “conspiração” armada por múltiplos interesses. São inconformidades irracionais, que, piedosamente, designamos como “radicalismo”, “causa própria ou interesse ferido”, até paixão. Já fiz as competentes distinções quanto às circunstâncias: quando o desarranjo não tem fim e atropela, é caso agudo de falta de inteligência ou pane intelectual. Na linguagem popular, é mesmo burrice, por mais apetrechada culturalmente que seja a criatura. O cara pode ser uma sumidade em física, no direito, em economia, em medicina, mas ter o pensamento absolutamente distorcido com relação à política, literatura, criação de filhos, ao papel da mulher na sociedade ou quanto à vida, em geral. Pode ser um grande físico, advogado, economista ou médico, mas, para simplificar, é burro. Conheci gente humilde, de mínimas letras, mas com visão de mundo de dar inveja a muito intelectual de proveta. Caso triste é quando fingem nos adular com trivialidades - colares e pedrinhas coloridas como os portugueses faziam com nossos índios. Querem se agrandar com salvas de palmas e glórias várias, atraindo-nos como massa de manobra, achando-se importantes e espertos. São burros demais. Convém que ninguém se impressione com títulos e aparências. Havia um bordão num programa antigo de humor da TV, talvez no VIVA O GORDO, em que o personagem do Jô Soares arrematava “Homem de gravata eu respeito”. A idade nos salva de tantas armadilhas e bajulações. Que os jovens fiquem atentos! Afinal, quando a esmola é demais, o santo desconfia. Eu nunca ganhei nem lata de goiabada em quermesse.