Botas Secas

Da série: PARÔNIMOS NOSSOS DE CADA DIA

(Não quero esmolas, apenas uns trocadilhos)

Pedrinho era um bom menino. Filho amoroso, estudioso, prestativo, ajudava o pai e o irmão na pescaria. Só tinha um defeito: o estouvamento. A mãe, tolerante, via de regra, relevava a sua incúria, porém uma coisa ela não conseguia contemporizar: nos dias de chuva (e eram muitos onde eles moravam) o garoto chegava em casa com as botinas enlameadas, completamente desfiguradas. Ela soube por uma vizinha que Pedrinho não conseguia transpor as várias poças que se apresentavam no caminho de volta. Tentava pisar de um jeito mais “leve”, mas sempre afundava o pé na água barrenta.

Um desses dias chuvosos, chegou à cidade um professor muito carismático que andava com destreza. Sua grande coordenação motora era patente. A mãe levou o menino para o mestre e pediu para fazer com que o garoto andasse direito, pois estava cansada de sempre ter que limpar as suas botinas. Ela tinha tentado ensiná-lo, mas ele não levava muita “fé” nos ensinamentos maternos. Após ouvi-la, o homem, de pelos no rosto e olhar penetrante disse, serenamente, à senhora:

- Sei bem como é isso. Vou ajudar o seu filho nesta tarefa.

Passada algumas horas, precipitação pluviométrica sobeja, solo encharcado, pululação de poças, eis que Pedro retorna com as botas completamente secas e limpas. Tomado de frenesi, tentava articular palavras.

- Mamãe, o mestre é ótimo me ensinou a caminhar direito por cima das poças; eu me senti tão leve que parecia flutuar.

A mão felicíssima disse:

- Eu vou lá agora, agradecê-lo. Como é mesmo o nome dele?

- O nome eu não me lembro, eu só sei que as suas iniciais são J.C.

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