Boato

Da série: PARÔNIMOS NOSSOS DE CADA DIA.

(Não quero esmolas, apenas uns trocadilhos)

Boato

As aulas por vezes, pareciam mais penosas que o risco da palmatória pelo seu gazeio. Os meninos arredios à disciplina espartana do tirocínio letivo, inventavam notícias, plantavam factoides para se furtarem da própria presença. Diziam ao mestre: professor, uma turba está ao arredor deste prédio; é melhor sobrestar a aula e irmos todos, enquanto é tempo, ao afago dos nossos lares. A credulidade constante do docente, os estimulava, mas, ainda assim, tinham receio. E se o Sr. Alcides viesse a descobrir? Uma sova de vara de marmelo pareceria piparote com o castigo que iam tomar. Ademais, quem prontificar-se-ia a “pôr o guizo no gato”? [nota 1] Precisavam de alguém convincente, que não restasse dúvida em suas palavras.

Coincidentemente nessa época, um novo aluno fora transferido para o Liceu. Atendia por Leon, ou simplesmente “L”, como queria ser chamado. De espírito vivaz e efervescente liderança, logo arregimentou simpatia do grupo e se predispôs a de tempos em tempos, falsear nos alvitres que levaria ao professor. Com o resultado eficaz de suas incursões, a turma logo concluiu: O sueto [nota 2] falsificado já é bom, mas quando o “L” entra no meio o suelto [nota 3] fica ainda melhor.

Notas:

[1] “...pôr o guizo no gato” é um trecho de uma famosa fábula. Os ratos cansados de serem devorados pelo gato da casa, decidiram em reunião, dentro de uma caixa de papelão, colocar um guizo em volta do pescoço do bichano. Assim, sempre que o felino se aproximasse, eles ouviriam o barulho e se dispersariam rapidamente. Maravilha, tudo resolvido, aclamaram os roedores efusivamente. Aí um pequeno ratinho, timidamente, no cantinho da caixa, levantou a patinha e falou:

- Está tudo certo, mas ... quem vai colocar o guizo?

A ideia não vingou.

[2] Sueto (s.m.): interrupção do trabalho para descansar; folga, descanso, ócio;

[3] Suelto (s.m.): notícia solta, referência espirituosa, boato.

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