O PRECONCEITO DA IDADE

Sou pessoa relativamente conservadora, mas tentando sempre evoluir e acolher o mundo novo. Não mudo minha vida e os meus valores, mas compreendo melhor os acontecimentos e alcanço mais sintonia. Dentre vários tópicos, vou abordar apenas um deles, pois certas pessoas, que se proclamam modernas e maduras, às vezes derrapam, confundem-se no tempo e ficam tais quais seus avós. Tem gente que defende o aborto, a liberdade, a igualdade entre homens e mulheres, o combate ao racismo, entende a eutanásia, está na linha de frente dos movimentos de gays, lésbicas e outras variantes de gênero, mas não perdoam relações entre homens mais velhos e mulheres mais jovens e/ou vice-versa. Homem, depois dos 60, é brocha, babão e sem graça, caindo aos pedaços, doente e não tem qualquer chance de cativar mulher mais jovem, salvo por interesse econômico ou sendo grande celebridade. O mesmo vale para mulheres depois dos 60 anos. Seriam elas invariavelmente bagulhos, banhudas, pelancudas, com muitas estrias e celulite, reumáticas, excessivamente enrugadas e sem graça, só podendo atrair homem mais jovem também se forem famosas, assim como nossa Bruna Lombardi, por exemplo, "feiosinha", mas estrela. Bem, concordo que é terreno em que o indivíduo tem de ter, sobretudo, autocrítica e senso agudo de percepção, sem exagerar na escolha da parceria por capricho ou exibicionismo. Cada caso é um caso e não se deve insistir no absurdo da generalização. No mais - seja homem ou mulher, hétero ou homo - segue o baile, já que a vida atual está se revelando mais longa. Viagra, plástica, muitos cremes, Botox, salão de beleza, academia, parece que se equivalem no desafio do prazer longevo e da preservação estética. No aspecto vitalidade, lembro que meu avô José Simões de Matos, com mais de 80 anos, já com uma perna amputada em função de trombose sofrida, procurava insistentemente “romance” com minha avó, de idade próxima. A ponto de ela pedir a meu pai, médico, que prescrevesse a vô Matos abstinência sexual absoluta. O espantoso, no entanto, não é a sucumbência à ditadura física e estética, mas a mais absoluta desconsideração a outros valores fundamentais, como companheirismo, afinidade, admiração, respeito, carinho e, sobremodo, amor - que até, em alguns casos, independe de gênero. Há gente que suporta parceria infernal em nome de alguma atração enferma e há os que se perdem na poeira da solidão. Há gosto para tudo no planeta, inclusive para os que não têm gosto algum. Não existe relação mal sucedida que dure muito tempo. Quanto ao mais, é especulação ou preconceito.