Empréstimo
Da série: PARÔNIMOS NOSSOS DE CADA DIA
(Não quero esmolas, apenas uns trocadilhos)
EMPRÉSTIMO
Joaquim, sujeito esperto de amizade fácil e paciência ardilosa. Gostava de conversar com Teodoro, literato e professor de português dos bons, purista por vocação. Joca emprestava seus ouvidos não porque gostasse da prosa literária-gramatical, preponderante no diálogo, mas por que queria aproximar-se do “amigo” para frequentar sua casa. Soube, à boca miúda, que o Teodoro tinha por hábito comprar suculentas línguas de boi, prato favorito do embusteiro. Guardava-as dentro de um isopor com gelo na parte do fundo da residência. Um belo dia, tendo o amante das letras se ausentado para ministrar aula na cidade vizinha, vislumbrou a oportunidade perfeita. À sorrelfa, adentrou na moradia do docente e alcançou o isopor repleto de língua bovina. Subtraiu todo o estoque e desapareceu. Só não percebeu que um vizinho, que já o conhecia pela fama, vira toda a nefanda ação e tão logo Teodoro tornou, pôs-se a contar a investida do larápio. Teodoro, indignado, foi ter com Joca;
— O que significa isso Sr. Joaquim? Abusa da minha amizade, invade a minha vivenda e furta minhas carnes?
Joca, de lábia afiada, tratou de inventar engenhosa desculpa:
— Ô meu brother, não leva a mal. É que eu estava com meu entourage, quando bateu aquela fome. Aí lembrei das suas línguas e fui lá pegar algumas. Mas, de core, acredite, foi solamente por uma boa causa. A retirada foi temporária, quando o açougue abrisse eu iria restituir, uma por uma, finalizou o palavrório.
Tamanha foi a artimanha com as palavras que o desavisado professor purista acreditou, mas sem antes arrematar:
— Tudo bem, desta vez passa, mas... esses “empréstimos linguísticos” ainda vão acabar com a nossa amizade.
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<** CONVITE **>
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© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves
Setembro/2017