O LEITE DERRAMADO
Nunca ficaria satisfeito de ver alguém enfrentando necessidades ou tendo de “empepinar-se”. Digo isto como intróito para afirmar que cada povo tem o governo que merece. Lula, Dilma, Temer, seja quem for na gestão pública, não emergiram do nada. No mesmo passo, é indispensável reconhecer que a ninguém seria lícito desconhecer que o apoio ao “quanto pior, melhor” emprestado, por alguns, ao Movimento dos Caminhoneiros, manifestado de modo irrestrito e caloroso, acarretaria, como vai acarretar, sérias conseqüências à vida econômica da população. Se você, por exemplo, gosta de cebola, tomate, alface, batata, usa bastante gás de cozinha ou anda de automóvel pra cá e pra lá diariamente, não tem choro em curto prazo, vai sofrer. Sua reposição salarial não vai cobrir, nem de longe, o aumento geral dos preços. Escrevi bastante sobre o assunto, como alguns outros amigos, mas predominava na rede o brado passional. Só que os fatos econômicos acontecem friamente e têm repercussão geral, projetando-se no tempo. Os mercadinhos perto de onde moro se negaram a pagar os preços que os fornecedores pediram por certas mercadorias, que, portanto, temporariamente sumiram. Os preços absurdos vão abrandar, é inevitável, mas nada será como antes. Então, ou o sujeito aumenta a renda ou vai ter de baixar algum tanto mais da poupança. Lamento pelos que ficarão entre San Juan y Mendoza, adaptando a expressão. Do ponto de vista político, é difícil saber quem colherá bons frutos da confusão, se é que haverá frutos aproveitáveis. Quanto ao “status quo”, repito que nada irá mudar substancialmente até as próximas eleições. Agora não adianta chorar o leite derramado.