QUANTO PIOR, MELHOR?

Se você vive dentro de um orçamento rigoroso e até, algumas vezes, precisa submeter-se ao parcelamento do cartão de crédito, pagando juros descomunais, tenho uma má notícia: aconteça o que tiver de acontecer, o custo de vida não tende a melhorar, pelo contrário. Se, em tais circunstâncias, você ainda tiver dependente econômico, bota logo mais água no feijão, meu amigo. Você acha que a zorra geral vai acarretar transformações positivas em curto prazo? Sinto muito, mas nada indica isto. Não se trata de ser contra ou a favor da greve dos caminhoneiros, dos petroleiros, seja lá da categoria que for. Greve é um direito, faz parte do regime democrático e há geralmente reivindicações justas e inadiáveis. Sou simpático a muitas delas. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. O locaute é ilegal, a exploração política acontece e é danosa e temos um governo muito, muito fraco, ninguém praticamente discute. Agora, daí a pensar na renúncia do Temer, numa intervenção militar ou na miraculosa recuperação do “status quo ante” (bellum) é uma grande ingenuidade, creio eu. O que inevitavelmente ocorre na crise é um aumento geral de preços, a diminuição do PIB, o recrudescimento inflacionário e o maior empobrecimentos dos que percebem salários. Sem falar em desemprego. Os ricos têm vários instrumentos e modalidades de defesa, aqui dentro, lá fora, em outro planeta. Ah, mas você acha que a “população” tem de passar por isto para que se alcance alguma coisa melhor. O que seria, eis que o atual Presidente está de partida? Um novo Presidente já, com ideias salvadoras e pronto a fazer mudanças notáveis? Quem e como faria isto? Com o novo Congresso que essa “população”, ainda mais sofrida e desgostosa, irá eleger? Sem dúvida que me preocupo. Alguma coisa irei sofrer, não sou bruxo para escapar. Mas, honestamente, por tudo quanto já planejei ao longo dos anos, atravessando mares mais revoltos, o meu cigarro e o vinho tinto acho que sempre conseguirei garantir. O que me deixa espantado é que leio algumas pessoas, que não gostam ou que não podem perder uma abotoadura ou um pinguim de geladeira sequer, torcendo pelo caos e pelo confronto autofágico. Reclamar, depois, só na Liga Náutica.