GUERRA & PAZ

O poeta Orlando Araújo diz que talvez esteja ficando velho, por rememorar os tempos que passaram. Eu afirmo que o poeta é sempre jovem, independente da idade, por conta desse universo que invade o seu ser. A memória é, portanto, apenas um lindo detalhe.

Uma das coisas que eu mais gostava de observar, quando viajava de Itabaiana para João Pessoa, era o painel "Guerra e Paz" da praça central de Bayeux. Eu fazia o percurso de ônibus e eles passavam por dentro das cidades de Santa Rita e Bayeux.

O Frei Fernando Maria e eu éramos alunos apaixonados pelas aulas de história clássica do Cel. Raul, no Colégio Estadual de Itabaiana, e saber que aquele painel representava a França livre e que o nome da cidade fora uma homenagem ao fato histórico, deixava-me curioso. Assim, analisava cada detalhe, não obstante a breve permanência do transporte, porque na realidade também gostava de história contemporânea.

O coronel Raul tinha naturalmente a cara de delegado, e o fora em Itabaiana, porém em sala de aula se transformava, ou melhor, vivia o que de fato era: um artista plástico sensível, um historiador perspicaz, um ator espetacular, um maestro na expressão da palavra. Gostei tanto da sua postura, que preteri o curso científico no Colégio Estadual de Itabaiana e fui fazer Contabilidade no Colégio Monsenhor Miranda, de propriedade do coronel.

Mas voltando ao painel! Eu vivia um painel em casa: o meu pai era a representação da paz; mamãe era a inequivocidade do guerreiro! E interessante é que essa aparente incongruência findou por burilar o caráter dos filhos: paz em tempo de paz e guerra em tempo de guerra!

Neste fim de semana a minha filha Lorena Alysson mostrou-me uma flor que desabrochara, lembrando-me de que a 'muda' fora dada por mamãe.

Interessante é que tudo aparentemente se acaba. Papaizinho se fora aos 85 anos, mamãe aos 80 e até o painel, que em tese deveria sobreviver para contar a história, foi derrubado.

E a flor tão delicada me fez reviver tudo isso, ao som de um piano que toca Bach, Chopin, Mozart e Beethoven, "para relexar e estudar", diz o canal do YouTube, enquanto a imaginação descobre que o painel e os meus pais estão representados na cor, no perfume, na beleza e nos espinhos da flor, numa constância de guerra e paz.