MEMÓRIA

A vida da gente é basicamente MEMÓRIA. Se você não lembra, não existiu. Se você fez, mas os parentes e amigos não lembram, é coisa muito pessoal, rarefeita, quase um sonho, que não existiu para ninguém mais e deixará de existir quando você partir para uma melhor. É por isto que garimpo fatos bem antigos, que minha memória ainda consegue captar e procuro registrar em textos para que durem um pouco mais, embora ache que o esforço seja praticamente inútil, pois as pessoas também se esquecem dos textos. Ainda mais hoje em dia, em que o digital substitui o analógico e quando até na minha boa Encantado se comenta eventual escândalo na Ilha da Madeira ou no Paquistão. O mundo ficou pequeno, veloz, fugidio, ninguém quer perder muito tempo com o que já passou. É claro, ainda se valorizam bastante os museus, mas os importantes, os mais célebres e interessantes. Você é apenas um pequeno museu de ocasião, talvez desperte atenção numa rápida visita. Sua biografia pode ser atraente numa conversa divertida de boteco, mas não queira escrever um livro, salvo ser for celebridade, hipótese em que também o interesse não dura muito, para a maioria. Eu sinto muito a falta de meus pais também para a depuração de certas histórias, para melhor recordar detalhes. Talvez aconteça o mesmo com meus filhos quando forem mais velhos, hoje a curiosidade não é tanta. Sempre fui assim, talvez por isto escreva, mas certamente a idade nos torna mais ligados a antigos fatos e acontecimentos, que desejamos recuperar integralmente. Mas as coisas são o que são, quer a gente goste ou não. E é inútil querer não ser esquecido, pois quando a gente atravessa o “Rubicão”, não vai mesmo se lembrar de mais nada.