AONDE VOCÊ VAI?

Um grupo de amigos se dispôs a desfrutar as folgas de prolongado feriado, ocorrido em uma quarta-feira. Enforcaram o trabalho da terça e da quinta, abstendo-se da labuta na sexta, dia que normalmente faltavam ao serviço, com o ponto abonado por seus superiores.

Os três casais, assim se compunha o grupo, trabalhavam em empresa pública, verdadeira mãe para o funcionalismo pouco afeito ao “batente”. A entidade explorava a distribuição de energia elétrica. Comandada por políticos vinculados a partidos de sustentação do governo, tornara-se ineficiente, onerosa e perdulária, além de ser um dos principais antros de corrupção do Estado.

As interrupções no fornecimento de energia elétrica causavam prejuízos à economia da região, provocando o êxodo de empresas geradoras de emprego e da contribuição tributária a que estavam sujeitas.

Sem o recebimento de elevados impostos, o município vivia à míngua, necessitado de tudo para sobreviver condignamente. A roubalheira desenfreada, por seu turno, prosperava célere, incentivada por decisões de Tribunais Superiores contrários à prisão de consagrados meliantes, antes de esgotados os recursos judiciais disponíveis, ou seja, nunca.

Volto ao início desta inusitada história para contar-lhes o seu desfecho. Na estação rodoviária, o grupo embarcou para certa cidade do interior de Minas Gerais, cujo nome, com a “devida vênia” do compreensivo leitor, me reservo a divulgá-lo mais adiante.

Centenas de quilômetros depois, os seis amigos apearam-se do ônibus na plataforma do pequeno terminal rodoviário para se informar de como chegar à Bela Vista de Minas.

– Peguem aquele ônibus que vai para Puta Que Pariu...

Um dos rapazes, inconformado com o que dissera aquele senhor, um velhote manco da perna esquerda, que ao caminhar lembrava alguém contando “vinte e nove, trinta”... “vinte e nove, trinta”, aberturou o velhinho, sufocando-o sem piedade. Afrouxando um pouco o gogó do

ancião, o deixou falar.

– Sim, senhor – disse o que coxeava – alteando a voz: Você vai a Puta Que Pariu, naquele ônibus ali, o 307!

Ao ver a placa indicativa da cidade estampada na frente superior do ônibus, o rapaz ficou sem nada entender. O velhinho tirou-o do êxtase, acrescentando:

– Puta Que Pariu fica situada na cidade de Bela Vista de Minas. Trata-se de um bairro criado em 1962, pela Lei 2764, de 3 de dezembro.

Sem mais discutir, os jovens foram conhecer o lugar. Hoje, sabem que os nascidos em Puta Que Pariu são chamados de “filhos da puta”, sem nenhum constrangimento. E aconselham:

– Se alguém lhe mandar à “puta que pariu”, não se apoquente. Você já sabe onde fica. Dá para ir de ônibus!