Cotidiano - Donzela do Gelo
O dia começou aqui onde estou. A amplitude do céu, as formas das nuvens numa diversidade sem igual, algodões doces vagando de forma letárgica. Existem três bandeiras ao meu lado que tremulam ao vento. Olho e penso naqueles filmes antigos, não sei porque.
A existência é incrível e eu me pego pensando como tudo isso foi criado. Hoje é um dia de sol e vento frio, isso dentro e fora de mim. E anseio muitas coisas, tenho muitos sonhos mas definitivamente não domino o tempo. E ele arde.
Cada pessoa que passa por aqui é singular e deve ter seus sonhos também. Mas neste momento eu só consigo pensar nos meus. Há trabalho por aqui, estão limpando os vidros e eu me lembro dos meus óculos, das lentes que eu limpava para ver o mundo. Mas confesso que ser míope ás vezes me agrada muito.
Ser míope é ser embassado. A gente ri do que não existe e descobre isso quando colocamos os óculos novamente, ai tudo vira mesmisse. A miopia me engrandece. Me torna uma espécie de fada. Coloco o óculos um mundo, retiro e me vem o mundo de Alice, o mundo mais foda que conheço. Quero ficar a qui para o chá das cinco.
É uma viagem quando o sol cintila na água que sai esfuziante da mangueira, o cheiro da grama, a terra molhada me remetem ao barro de onde fui formada com defeito se ser gente.
É deste jeito. O sinal bate e a gente pensa que o parquinho é o melhor lugar do mundo. Deve ser, toda criança quer estar no parque, e eu também quero.
Na rodovia aqui ao lado a vida passa rápido, o limite é de 60 km pois a rodovia está em área residencial, porém a vida sobre rodas aqui vai a mais e 100 km. Contrastando com tudo isso, estão os ciclistas exibindo suas roupas apertadas dando um sentido erótico as pedaladas. Dá até para rir um pouco. Mas cada um faz o que gosta e eu neste momento estou aqui escrevendo sobre tudo isso e pesando no café. Que ainda não tomei mas quero muito.
Às vezes, a vida é só tomar café e fica tudo bem.